Friday, November 28, 2008

Espelhos refratarios

"Smile even though yor heart is aching, smile even though it's breaking" - Charles Chaplin
Sorrir mesmo com o coração doído e "quebrado" não signica esconder o que sinto. Significa enfrentar a vida de frente e com coragem. Deixando que os outros saibam de minhas dificuldades e de minhas dúvidas, mostrando àqueles que escolhi para me acompanhar na caminhada da vida que preciso de apoio e não sou inatingível. Aliás, quem não é?
Mas por quê as pessoas escondem-se atrás de armaduras e não se expõem? Por quê é tão difícil alcançá-las e atravessar tal proteção? Por quê quando perguntadas sobre como estão as coisas as pessoas sempre respondem que está tudo bem e geralmente não compartilham seus problemas e dificuldades?Por quê as pessoas escondem-se atrás de si mesmas e se fecham?
Ao contrário da maioria, sou bastante aberto e coloco-me verdadeiramente perante as pessoas. Por isso quando as coisas não estão boas as pessoas sabem. E com isso consigo o apoio de quem é caro e importante para mim. Não me escondo e não sorrio para esconder o que não pode ser escondido. Seguindo o pensamento de Chaplin, sorrio mesmo com meu coração doendo, como filosofia de vida e forma de enfrentar meus problemas. Mas não deixo de demonstrar aquilo que me afeta e de compartilhar minhas dificuldades com quem pode me ajudar. Assim caminho compondo as notas da minha felicidade, tecendo sonhos e buscando meus objetivos.
Ainda que isto possa incomodar a outros esta é a minha maneira de ser e nela acredito firmemente. Não gosto de blindar a mim mesmo e tentar mostrar algo que não é verdadeiro. Gosto de ser transparente. Sou um espelho e não consigo não demonstrar o que sinto. Quem me conhece bem já sabe disso. Basta olhar para mim e já se sabe se estou bem ou mal. Não tento evitar a perpepção de quem me interpreta. E não adianta eu querer mudar. Sou assim e pronto. PONTO!
O que faz com que as coisas sejam mais difícieis para mim pois na vida as pessoas não perdoam. O que faz com que eu sofra bastante uma vez que eu não consigo me blindar. Porém me faz mais feliz à medida em que sigo fiel a mim mesmo olhando-me todo dia com a mesma franqueza de sempre e falando com o mundo através de uma imagem que reflete quem eu sou. Não uma imagem criada para pensarem quem sou eu em um espelho de imagens refratárias.

Thursday, November 13, 2008

Cacófato impagável

Ouvindo uma de minhas estações de rádio preferidas (Kiss Fm 102,1) na hora do rush, quase me esborrachei de rir ao reparar no cacófato do locutor que anunciava os vencedores de uma promoção da rádio.
Referindo-se ao fato de que, ao invés de sortear um par de convites, ele ia sortear dois pares para o show do Judas Priest que acontece neste final de semana em São Paulo, ele, desatenciosa e jocosamente, disparou:
- Hoje o "boss" tá legal e me deixou sortear dois pares de convite ao invés de um só.
Tomara que ninguém nos estúdios da estação de rádio tenha percebido. Eu, "quase bati o carro".

Wednesday, November 12, 2008

National Civil Rights Museum - Memphis

Preocupados com a degradação e decadência do motel Motel Lorraine, indiscutivelmente um ponto histórico para os Estados Unidos, um grupo de importantes cidadãos de Memphis criou, em 1982, a "Martin Luther King Memorial Foundation" com o objetivo de preservar o local onde o crime que vitimou o líder negro acontecera. Com um fundo inicial de dez mil dólares, os membros da Fundação não tinham condições de adquirir o imóvel pelo preço pedido de duzentos e cinquenta mil dólares. Após um ano de luta, em dezembro de 1982, a Fundação conseguiu adquirir o Motel Lorraine por cento e quarenta e quatro mil reiais. Destes, US$ 69,000 vieram de esforços próprios de arrecadação. Outros US$ 25,000 foram doados pela Federação dos Funcionários Públicos Municipais, e US$ 10,000 adicionais foram doados pela Lucky Hearts Cosmetics, uma loja localizada na frente do Motel. Os restantes US$ 50,000 foram emprestados pelo Tri-State Bank com o aval da Federação dos Funcionários Públicos Municipais e a própria Lucky Hearts Cosmectics.
Outros cinco anos foram necessários para o levantamento de US$ 9 milhões, conseguidos com o apoio da Prefeitura de Memphis e o Governo do Estado do Tenesse. A pedra fundamental do Museu foi lançada em 1987 e, em 28 de setembro de 1991 o Museu Nacional de Direitos Humanos abriu suas portas mantendo o antigo Motel "acoplado" ao novo edifício como mostra a foto. Vale ressaltar que o guarto que abrigou Marthin Luther King ainda pode ser visitado e foi "reconstituido" com deixado pelo líder ativista.
Em Fevereiro de 2001 uma nova expansão foi iniciada com um orçamento de US$ 11 milhões. Adicionando uma área de 1.200 metros quadrados ao Museu, o projeto Intitulado "Exploring the Legacy" , anexou ao prédio anteriormente cionstruído a casa de onde partiu o tiro fatal desferido por James Earl Day em abril de 1968. A nova ala, inaugurada em 28 de setembro de 2002, procura buscar respostas para o legado da luta de Marthin Luther King bem como a expansão da luta pelos direitos civis em todo o mundo.
A elição de Barack Obama, certamente, é um desses legados.
Fonte dos dados históricos: www.civilrightsmuseum.org

CURIOSIDADE

Andando pelas ruas de São Paulo tenho visto vários monumentos com um colete laranja gigante. Passei na Avenida Rio Branco e vi o imenso Duque de Caxias com o tal colete.

Alguém saberia me dizer do que se trata? Seria um manifesto, obra de arte conceitual ou campanha da Prefeitura? Não tem nada indicando o motivo de tal curiosidade.

Friday, November 07, 2008

TIME DE CHEGADA?


A mediocridade invadiu nosso futebol e o que é engraçado é que a mediocridade é que deu graça ao campeonato. Hoje não se reconhece mais nenhum talento extraordinário ou jogador que carregue um time nas costas. Acabou a era do futebol arte (e já faz tempo). Assim, no truculento cenário de igualdade e mesmice, a graça e a emoção, por incrível que pareça, estão de volta. Não necessariamente pelo futebol jogado, mas pela disputa cabeça a cabeça como em um bom páreo no jockey. Não tem graça ver um páreo com um cavalo que sai disparado e deixa todos para trás. É legal ver a disputa e a emoção da corrida sem vencedor definido. E assim está o campeonato neste ano.

Neste meio de campo, o que diferencia o São Paulo das demais equipes é sua capacidade de se recuperar ou de manter a “ruindade” de forma regular a tempo de se recuperar. Em diversas ocasiões o time teve um péssimo desempenho por várias e várias rodadas e, quando “a vaca ia indo para o brejo”, o processo de recuperação se instaurou. No ano passado foi assim: logo após a perda da classificação na Libertadores para o Fluminense e a derrota para o River pela Sulamericana parecia que o time ia desabar. Mas aí veio a regularidade. Da mesma forma em que se "permite" relaxar e não jogar bem, quando se dá o chacoalhão na hora certa, o São Paulo volta a andar na linha reta na hora certa.


O mérito do São Paulo não está no futebol propriamente dito e nem na tática, apesar de o Muricy ser um bom técnico. Está, em minha opinião, na postura do treinador e na filosofia de trabalho que ele resumiu em uma simples frase após o controverso jogo contra o Botafogo: "eu não desisto". Assim, seu grande mérito está em administrar um elenco permitindo o período de baixa, mas sabendo a hora de não permitir a continuidade da baixa, capacidade que me parece falha em outros técnicos (até mesmo no ilustre Sr. Wanderley Luxemburgo). Outra coisa que diferencia o técnico do São Paulo dos outros (E ISSO NENHUM OUTRO TEM!) é que Muricy é um profissional do clube que, nesta mesma entrevista após o jogo no Engenhão, declarou enfaticamente: "eu penso no clube porque gosto do clube". Isto, sim, faz toda a diferença. Muricy é São Paulino e, como eu, ou mais do eu (talvez!), torce pelo São Paulo, clube que lhe deu a camisa, projeção, títulos e a primeira oportunidade de ser treinador. Não tenho dúvidas de que Muricy, entre os treinadores dos clubes de ponta, de longe é o mais comprometido com o escudo que defende. Sem romantismos ou idealismo. É fato.

Outro diferencial que deve ser lembrado quando se comparara o São Paulo aos outros competidores é o suporte dado pela diretoria ao técnico. Quantas vezes a imprensa aventou a "queda" de Muricy? Quantas vezes o desastroso desempenho do tricolor em fases decisivas colocou em polvorosa a imprensa esportiva que chegou a quase noticiar sua demissão? Em todas elas a direção do clube manteve o contrato e deu suporte ao técnico confiando em sua capacidade de recuperar a performance e a auto-estima do elenco. Os outros clubes, ao contrário, trocam seus técnicos como se troca de celular e não mantém a constância na direção. A imprensa, porém, não enaltece este comportamento profissional da diretoria do São Paulo que, há quatro temporadas, praticamente mantém a mesma comissão técnica. Qual time do futebol brasileiro (especialmente entre os atuais cinco primeiros) tem o mesmo técnico há três anos? Qual destas equipes muda de presidente e não muda de técnico? Será que a constância do São Paulo é mesmo casual? Ou seria um conjunto de decisões que permitem o trabalho perene e contínuo enfrentando apenas os problemas que ficam dentro das quatro linhas?
A tudo isso dão o nome de "Time de Chegada".

A diferença está muito mais fora do que dentro do campo, porque no gramado está todo mundo nivelado por baixo.

Thursday, November 06, 2008

In Memoriam


Baixei e transcrevo aqui em meu BLOG (para quem tiver a PACHORRA DE LER) a tradução do histórico discurso de Marthin Luther King proferido em Washington em 28/08/1963.


"Eu estou contente em unir-me com vocês no dia que entrará para a história como a maior demonstração pela liberdade na história de nossa nação.


Cem anos atrás, um grande americano, na qual estamos sob sua simbólica sombra, assinou a Proclamação de Emancipação. Esse importante decreto veio como um grande farol de esperança para milhões de escravos negros que tinham murchados nas chamas da injustiça. Ele veio como uma alvorada para terminar a longa noite de seus cativeiros. Mas cem anos depois, o Negro ainda não é livre. Cem anos depois, a vida do Negro ainda é tristemente inválida pelas algemas da segregação e as cadeias de discriminação. Cem anos depois, o Negro vive em uma ilha só de pobreza no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos depois, o Negro ainda adoece nos cantos da sociedade americana e se encontram exilados em sua própria terra. Assim, nós viemos aqui hoje para dramatizar sua vergonhosa condição.


De certo modo, nós viemos à capital de nossa nação para trocar um cheque. Quando os arquitetos de nossa república escreveram as magníficas palavras da Constituição e a Declaração da Independência, eles estavam assinando uma nota promissória para a qual todo americano seria seu herdeiro. Esta nota era uma promessa que todos os homens, sim, os homens negros, como também os homens brancos, teriam garantidos os direitos inalienáveis de vida, liberdade e a busca da felicidade. Hoje é óbvio que aquela América não apresentou esta nota promissória. Em vez de honrar esta obrigação sagrada, a América deu para o povo negro um cheque sem fundo, um cheque que voltou marcado com "fundos insuficientes".


Mas nós nos recusamos a acreditar que o banco da justiça é falível. Nós nos recusamos a acreditar que há capitais insuficientes de oportunidade nesta nação. Assim nós viemos trocar este cheque, um cheque que nos dará o direito de reclamar as riquezas de liberdade e a segurança da justiça.


Nós também viemos para recordar à América dessa cruel urgência. Este não é o momento para descansar no luxo refrescante ou tomar o remédio tranqüilizante do gradualismo.


Agora é o tempo para transformar em realidade as promessas de democracia.


Agora é o tempo para subir do vale das trevas da segregação ao caminho iluminado pelo sol da justiça racial.


Agora é o tempo para erguer nossa nação das areias movediças da injustiça racial para a pedra sólida da fraternidade.


Agora é o tempo para fazer da justiça uma realidade para todos os filhos de Deus.


Seria fatal para a nação negligenciar a urgência desse momento. Este verão sufocante do legítimo descontentamento dos Negros não passará até termos um renovador outono de liberdade e igualdade. Este ano de 1963 não é um fim, mas um começo. Esses que esperam que o Negro agora estará contente, terão um violento despertar se a nação votar aos negócios de sempre.


Mas há algo que eu tenho que dizer ao meu povo que se dirige ao portal que conduz ao palácio da justiça. No processo de conquistar nosso legítimo direito, nós não devemos ser culpados de ações de injustiças. Não vamos satisfazer nossa sede de liberdade bebendo da xícara da amargura e do ódio. Nós sempre temos que conduzir nossa luta num alto nível de dignidade e disciplina. Nós não devemos permitir que nosso criativo protesto se degenere em violência física. Novamente e novamente nós temos que subir às majestosas alturas da reunião da força física com a força de alma. Nossa nova e maravilhosa combatividade mostrou à comunidade negra que não devemos ter uma desconfiança para com todas as pessoas brancas, para muitos de nossos irmãos brancos, como comprovamos pela presença deles aqui hoje, vieram entender que o destino deles é amarrado ao nosso destino. Eles vieram perceber que a liberdade deles é ligada indissoluvelmente a nossa liberdade. Nós não podemos caminhar só.


E como nós caminhamos, nós temos que fazer a promessa que nós sempre marcharemos à frente. Nós não podemos retroceder. Há esses que estão perguntando para os devotos dos direitos civis, "Quando vocês estarão satisfeitos?"


Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto o Negro for vítima dos horrores indizíveis da brutalidade policial. Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto nossos corpos, pesados com a fadiga da viagem, não poderem ter hospedagem nos motéis das estradas e os hotéis das cidades. Nós não estaremos satisfeitos enquanto um Negro não puder votar no Mississipi e um Negro em Nova Iorque acreditar que ele não tem motivo para votar. Não, não, nós não estamos satisfeitos e nós não estaremos satisfeitos até que a justiça e a retidão rolem abaixo como águas de uma poderosa correnteza.


Eu não esqueci que alguns de você vieram até aqui após grandes testes e sofrimentos. Alguns de você vieram recentemente de celas estreitas das prisões. Alguns de vocês vieram de áreas onde sua busca pela liberdade lhe deixaram marcas pelas tempestades das perseguições e pelos ventos de brutalidade policial. Você são o veteranos do sofrimento. Continuem trabalhando com a fé que sofrimento imerecido é redentor. Voltem para o Mississippi, voltem para o Alabama, voltem para a Carolina do Sul, voltem para a Geórgia, voltem para Louisiana, voltem para as ruas sujas e guetos de nossas cidades do norte, sabendo que de alguma maneira esta situação pode e será mudada. Não se deixe cair no vale de desespero.


Eu digo a você hoje, meus amigos, que embora nós enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã. Eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.


Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença - nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados iguais.


Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos desdentes dos donos de escravos poderão se sentar junto à mesa da fraternidade.


Eu tenho um sonho que um dia, até mesmo no estado de Mississippi, um estado que transpira com o calor da injustiça, que transpira com o calor de opressão, será transformado em um oásis de liberdade e justiça.


Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter.


Eu tenho um sonho hoje! Eu tenho um sonho que um dia, no Alabama, com seus racistas malignos, com seu governador que tem os lábios gotejando palavras de intervenção e negação; nesse justo dia no Alabama meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas brancas como irmãs e irmãos.


Eu tenho um sonho hoje! Eu tenho um sonho que um dia todo vale será exaltado, e todas as colinas e montanhas virão abaixo, os lugares ásperos serão aplainados e os lugares tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor será revelada e toda a carne estará junta.


Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que regressarei para o Sul. Com esta fé nós poderemos cortar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé nós poderemos transformar as discórdias estridentes de nossa nação em uma bela sinfonia de fraternidade. Com esta fé nós poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, para ir encarcerar juntos, defender liberdade juntos, e quem sabe nós seremos um dia livre.


Este será o dia, este será o dia quando todas as crianças de Deus poderão cantar com um novo significado.


"Meu país, doce terra de liberdade, eu te canto.


Terra onde meus pais morreram, terra do orgulho dos peregrinos,


De qualquer lado da montanha, ouço o sino da liberdade!"


E se a América é uma grande nação, isto tem que se tornar verdadeiro. E assim ouvirei o sino da liberdade no extraordinário topo da montanha de New Hampshire.


Ouvirei o sino da liberdade nas poderosas montanhas poderosas de Nova York.


Ouvirei o sino da liberdade nos engrandecidos Alleghenies da Pennsylvania.


Ouvirei o sino da liberdade nas montanhas cobertas de neve Rockies do Colorado.


Ouvirei o sino da liberdade nas ladeiras curvas da Califórnia.


Mas não é só isso. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Pedra da Geórgia. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Vigilância do Tennessee.


Ouvirei o sino da liberdade em todas as colinas do Mississipi. Em todas as montanhas, ouvirei o sino da liberdade.


E quando isto acontecer, quando nós permitimos o sino da liberdade soar, quando nós deixarmos ele soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo estado e em toda cidade, nós poderemos acelerar aquele dia quando todas as crianças de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir mãos e cantar nas palavras do velho spiritual negro:


Livre afinal, livre afinal.

Agradeço ao Deus todo-poderoso, nós somos livres afinal."


Esta reprodução é o meu toque no sino da liberdade.

Monday, November 03, 2008

SABEDORIA BUDISTA


"GATE GATE
PARAGATE
PARASAMGATE
BODHI SWAHA"

Avance, avance.
Avance além.
Avance imediatamente além,
Atinja a iluminação.

Sutra da essência da verdadeira sabedoria que me foi passado pelo diretor editorial da revista Imprensa.

BOLA DE MEIA, BOLA DE GUDE

Rompendo tradições e barreiras persigo meus ideais traduzindo em atitudes minha filosofia de vida.

Colecionando relacionamentos verdadeiros e criando laços fortes. Mirando fundo nos olhos e conhecendo as pessoas que escolho para mim. Interessando-me por quem me faz bem e me ajuda a crescer.

Rejeitando a sociedade dos cartões de plástico e relações fúteis baseadas em interesses econômicos. Exorcizando valores etéreos e referências exógenas que nada me dizem. Apenas classificam.

Desprezando relações burocráticas e encontros sem palavras, Começo um novo mês cantando esta música e repetindo para mim mesmo os sábios versos de Milton Nascimento:

Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem pra me dar a mão

Há um passado no meu presente
Um sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra
O menino me dá a mão

E me fala de coisas bonitas
Que eu acredito
Que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito
Caráter, bondade, alegria e amor

Pois não posso
Não devo
Não quero
Viver como toda essa gente
Insiste em viver

E não posso aceitar sossegado
Qualquer sacanagem ser coisa normal

Bola de meia, bola de gude
O solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão

Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto fraqueja
Ele vem pra me dar a mão

Obá, obá, obá

Existe uma outra São Paulo escondida atrás da burocracia do mundo dos négocios, do caos do trânsito e da violência que nos assusta. Uma São Paulo maravilhosa que, a poucos quarteirões de casa, nos permite viajar até New Orleans ou Tokio sem tomar um avião. Uma São Paulo que coloca o mundo na porta de casa e permite um giro pela terra sem que se saia de nosso bairro.
Sábado, caminhando pelo parque da Aclimação ouvi uma "passagem de som". Uma voz em inglês repetia: "mike check one", "mike check two". Curioso caminhei até a concha acústica de onde vinha o ruído. Deparei-me com um palco montado e um baterista fazendo a verificação do som dos microfones. O sotaque era sulista e o inglês não negava sua origem. Perguntei ao técnico de som do que se tratava e fiquei sabendo que ao meio dia um show aconteceria. Imediatamente passei à mão meu telefone e chamei minha mulher. Direto de New Orleans, Kurt Brunus Project & Cynthia Bland encerrando sua temporada de duas semanas em São Paulo.
Sol quase à pino, ainda meio tímido por causa da primavera. A aglomeração foi se formando à beira do lago (infelizmente poluído) e a expectativa aumentava. Toalhas estendidas no chão, alguns fazendo pique-nique, cervejas geladas no isopor dos ambulantes. Anúncio de que o show começaria em poucos minutos. Descontração total, pessoas de todas as origens lado a lado, espírito de praia. Música ao ar livre para quem sabe curtir a vida.
Os primeiros acordes deram o tom do que estava por vir: Soul e Rithm & Blues de primeiríssima qualidade. Pés descalços, bonés nas cabeças, saias curtas e pernas à vista. Balanço total na voz de uma genuína cantora do sul dos Estados Unidos. Crianças soltas e cachorros presos. Deitados no chão com as línguas de fora por causa do calor. Pessoas em cima das árvores brigando pelo melhor ponto de visão.
Misturando hip-hop, raggae e pitadas de zydeco (musica típica da cidade de origem da banda), o espetáculo foi estonteante e cheio de energia. Praticamente duas horas em que foi impossível ficar parado. Cada um a seu modo caía no som contagiante que só os negros sabem alastrar. Muita mistura de ritmos e instrumentos quase sem intervalos. Uma viagem musical partindo das origens do Jazz, passando pela bossa nova, anos 70 e 80 até aterrisar no hip hop, ritmo do qual não sou muito fã, mas que, nos arranjos de Kurt Brunus, ficaram fantásticos.
Kurt Brunus nasceu em Los Angeles e logo cedo tranferiu-se para New Orleans. Parte de uma família de músicos, Kurt iniciou, aos quatro anos de idade, seus estudos de piano. O ambiente dos bastidores de palcos e a convivência com músicos permitiu que ele aprimorasse seus conhecimentos musicais e sozinho aprendesse a tocar guitarra, trompete, corneta, clarineta, percussão, saxofone, baixo e violino. Extremamente simpático e envolvente, o músico tem também facilidade para idiomas. Durante o show interagiu com o público , convidando-nos, em português, a cantar e participar. O ponto alto ficou para a última interpretação da banda, encerrando o bis: um maravilhoso arranjo para "Mas que nada" de Jorge BenJor cantado pelo próprio Kurt em português. Música que fez a concha acústica ecoar e o parque vibrar cantando e sambando no refrão:
ô, ariá raiô
Obá, obá, obá...