Wednesday, October 21, 2009

OLIMPÍADAS UM RECORDE DE MÁ DISTRIBUIÇÃO E CONCENTRAÇÃO DE VERBA PÚBLICA

Em meio a onda de ufanismo fora de proporções que se espalha por nosso país e nossa imprensa, meu inconformismo aumenta a cada dia. Não consigo aceitar a destinação de grandes montantes de verba pública para a realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas, preterindo investimentos sociais em áreas que deveriam ser priorizadas. A imprensa noticiou na semana passada, sem grande questionamento, que o BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) vai ser o principal financiador do Governo, devendo oferecer ao menos 15 bilhões de reais para os dois eventos. Caberá ao banco custear, com empréstimos, os principais gastos de infraestrutura urbana, restando ao Governo Federal o investimento em portos, aeroportos e paisagismo. O BNDES vai disponibilizar inicialmente R$ 5 bilhões para o PAC da Mobilidade, programa que prevê a construção de vias, criação de corredores de ônibus articulados e a expansão do metrô carioca com a criação de outras linhas. Além deste montante, o BNDES também abrirá uma linha para reforma de hotéis estimada em R$ 1 bilhão - podendo chegar a R$ 5 bilhões - já que é necessária a construção de mais 10 mil a 12 mil quartos no Rio para atender os parâmetros olímpicos.

Tratando-se da realidade social brasileira, estes são números que impressionam. Estima-se que o investimento de verba pública será de aproximadamente R$ 30 bilhões, número este que, pelo histórico dos Jogos PanAmericanos de 2007, deve, pelo menos, dobrar. Apenas como dado comparativo, segundo o site do programa Minha Casa Minha Vida, o Governo Federal deve destinar R$ 34 bilhões para construir 1 milhão de moradias. Ou seja, o orçamento previsto para investimentos nas Olimpíadas é praticamente o mesmo do programa de habitação do Governo Lula. Não seria a questão habitacional mais importante do que as Olimpíadas?

Além de não reconhecer prioridade nos investimentos governamentais para a realização dos jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, chama-me a atenção também o fato de todo este investimento concentrar-se em praticamente uma cidade, deixando, à margem, todo um país. Nada contra o Rio de Janeiro, muito pelo contrário. Esta cidade tem potencial inigualável no Brasil para o turismo. O Rio deve ser “recuperado” e reurbanizado, voltando a ser a nossa capital do turismo para trazer milhões em divisas que deveriam ser reinvestidas na própria cidade. Trata-se de uma questão de planejamento que deveria acontecer não por causa de um evento de grande porte, mas simplesmente porque é uma necessidade de um dos mais tradicionais pontos turísticos do mundo. Cabe também lembrar que a exploração do turismo é de competência do Ministério do Turismo, que tem todos os predicados para realizar parcerias com a iniciativa privada e captar recursos que podem, por exemplo, viabilizar a construção de mais quartos de hotéis. Outro ponto de grande importância é que o investimento em infraestrutura urbana é uma obrigação do Estado, independente da realização dos Jogos Olímpicos. Prover transporte para os cidadãos é dever público. E só agora com as Olimpíadas o Rio vai tentar resolver seus problemas de transporte, com grande percentual de aporte de verba do Governo Federal. Não seria o transporte metropolitano uma responsabilidade das instâncias Estaduais e Municipais do Rio de Janeiro que há tempos não tratam deste problema?

Espanta-me o silêncio geral para o fato de que, na realidade, a vinda das Olimpíadas para o Brasil é a confirmação de nossa histórica incapacidade de distribuir renda. É a cristalização da nossa concentração de riquezas. De forma institucionalizada e comemorada. A destinação de grandes montantes para áreas menos prioritárias em um país socialmente debilitado em áreas básicas como saúde e educação representa uma inversão de valores na priorização destes investimentos e repasse da verba pública. Segundo o site do próprio BNDES, “a solução dos problemas de infraestrutura é condição necessária para a melhoria do bem estar da população permitindo que todos tenham acesso a serviços básicos como energia elétrica, comunicações, transportes urbanos e saneamento”. O PAC da mobilidade do BNDES, ainda que concentrado em uma das mais merecedoras e carentes cidades do país, deixa de lado todo um país que ainda precisa urgentemente de investimentos maciços em saneamento público. Por que investir mais no transporte público de apenas uma cidade do que garantir o acesso de todos a saneamento e energia elétrica? Além do mais, este programa transfere um gigantesco montante de capital para uma única instância Municipal, esquecendo-se de sua missão em nível nacional. O BNDES acaba de bater o recorde mundial de má distribuição e concentração da verba pública.

SÚPLICAS AO TEMPO

Passa tempo, passa...

Deixa suas marcas em mim,

Não me deixe olhar para trás.



Anda tempo, anda.

Me leva para frente,

Não me deixe atrasar.



Corre tempo, corre.

Só me traga novidades,

Não há outro modo de ser.



Galopa tempo, galopa.

Me joga pra fora da sua sela,

Não me deixe acomodar.



Voa tempo, voa.

Perde sua própria noção,

Não me deixe perder de mim.

UM SOPRO AO VENTO

FLOR E CRONÓPIO

De Júlio Cortazar

Um cronópio encontra uma flor solitária no meio dos campos. Primeiro pensa em arrancá-la, mas percebe que é uma crueldade inútil, e se coloca de joelhos junto dela e brinca alegremente com a flor, isto é: acaricia-lhe as pétalas, sopra para que ela dance, zumbe feito uma abelha, cheira seu perfume, e deita finalmente debaixo da flor envolvido em uma enorme paz.

A flor pensa: "É como uma flor".

Diálogo deixado para trás no tempo.

A IMPORTÂNCIA DE SER FLUENTE EM PORTUGUÊS

O Texto abaixo é da Editora-executiva do portal Imprensa (www.portalimprensa.com.br) Thais Naldoni que expressou em perfeitas palavras e com exemplos práticos meus sentimentos quanto à triste realiadade de um país em que a média de leitura da população é de 1 livro por ano.

A IMPORTÂNCIA DE SER FLUENTE EM PORTUGUÊS

Uma característica que chama muito a atenção nos textos de vários estudantes - e grande parte dos recém-formados em Jornalismo - é a ausência quase absoluta de vocabulário e um aparente desconhecimento profundo da língua portuguesa.

Chegam aqui, na redação de IMPRENSA, dezenas de currículos todas as semanas com pedidos de estágio e busca de vagas de emprego. Dentre os inúmeros predicados dos candidatos, me deparo com o conhecimento de línguas estrangeiras em quase todos eles: inglês fluente, espanhol fluente, italiano ou francês. Mas, ainda que eu reconheça a importância de outros idiomas em um mundo globalizado, defendo com unhas e dentes - e repito quase que como um mantra - a necessidade de que o estudante de Jornalismo e o próprio jornalista saibam, com fluência em fala e escrita, o português.

Posso listar aqui uma série de motivos para minha afirmação, mas ilustro com alguns exemplos, que mais parecem os e-mails de "pérolas do Enem" que circulam pela internet. Frases como: "tenho muito 'enterece' em 'faser' parte da equipe"; "na 'auzencia' de um local para estagiar, criei um blog para 'ezibir' meus textos"; "tenho 'fassilidade' para 'sujerir' pautas". Isso, claro, sem contar o desconhecimento das regras de crase, algumas conjugações verbais e concordância.

Posso afirmar, com conhecimento de causa, que o "fenômeno" não escolhe universidade. Já chegaram até nós textos com erros "hediondos" de estudantes e jovens profissionais tanto do ensino público, quanto do privado. Então, qual seria o motivo de tamanho déficit no uso de nossa língua?

Acredito que a falta de leitura seja o principal algoz da boa escrita. Se você estiver numa sala de aula de uma turma de Jornalismo e perguntar quantos leram ao menos um dos principais jornais daquele dia, garanto que muito menos da metade dos que estiverem no local levantarão a mão. Livros? Pergunte qual foi o último livro lido? Isso explica também a repetição de palavras nas matérias e nos trabalhos de faculdade. A ausência de leitura contribui de forma significativa para o empobrecimento do vocabulário.

Escrevo a coluna depois de ter dado três palestras seguidas e, nas três, ser questionada sobre os pré-requisitos necessários para um bom jornalista de internet. Minha resposta é sempre rápida e clara: saber falar e escrever o Português. Imagine a tragédia de, em uma matéria de web, em que a apuração é muito rápida e a postagem é feita sem que o texto passe pelo crivo de um revisor, de se publicar uma matéria em que "uma emissora vai deixar de 'ezibir' um programa"?

Por isso, meus caros, leiam, leiam, leiam, leiam muito. Estudem as regras gramaticais, caso haja dúvida em alguma. Quanto mais leitura, mais vocabulário. Quanto mais referências, menores as chances de erros primários em suas matérias, pois, caso os faça por distração, seu próprio repertório o salvará de pagar um mico astronômico. Antes de correr atrás das belas escolas de idiomas estrangeiros, seja um "expert" no seu. E saia na frente de muitos dos pleiteantes às vagas, cada vez mais disputadas, do mercado de trabalho.


* Thaís Naldoni é jornalista, graduada pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Com passagens pela Folha Online e Sportv, também atuou como repórter e secretária de redação da Revista IMPRENSA.

Thursday, October 01, 2009

NÃO, NÓS NÃO PODEMOS!

Chicago, Madrid ou Tóquio. Para mim tanto faz a cidade a ser escolhida. A única coisa que não desejo é que o Rio saia vitorioso amanhã. Ao contrário do que nosso presidente vem dizendo, NÃO, nós não podemos ser a sede de uma Olimpíada.

Nós não podemos sediar uma olimpíada porque a farra, a bagunça, a esbórnia e o desrespeito com o dinheiro público e com os brasileiros começam antes mesmo da vitória ser conclamada. A única comitiva a fechar um hotel na cidade de Copenhague foi a a brasileira. 200 dos 260 apartamentos do Hotel STK Petri foram reservados para nossos "representantes". E, independentemente do resultado, a cidade do Rio amanhã vai parar com a festa em Copacabana correrendo por nossa conta.

Nós não podemos sediar uma olimpíada porque o Ministério dos Esportes não existe neste país. Nunca de fato existiu, e, se existiu, só se preocupou em aprender a como "negociar" com a malandra cartolagem do futebol.

Nós não podemos sediar uma olimpíada porque não temos uma política séria de investimentos nas escolas e nos municípios que faça do incentivo ao esporte um meio de inclusão social.

Nós não podemos sediar um olimpíada porque o Estado não investe na formação de professores capazes de treinar e educar os alunos através dos esportes e nem educação física proporciona todas as escolas.

Nós não podemos sediar uma olimpíada porque não temos uma política tributária que incentive corretamente a transferência de recursos da iniciativa privada para a formação de talentos que futuramente tragam resultados de imagem para as empresas.

Nós não podemos sediar uma olimpíada porque nossos atletas só ganham patrocínio depois que ficam conhecidos e sempre iniciam suas carreiras com recursos próprios.

Nós não podemos sediar uma olimpíada porque as universidades, públicas ou privadas, não levam o esporte a sério e não desenvolvem talentos.

Nós não podemos sediar uma olimpíada porque não há manutenção correta de parques, praças, campos, várzeas e quadras PÚBLICAS onde o esporte poderia ser praticado tirando menores das ruas e diminuindo a delinquencia ínfanto-juvenil.

Nós não podemos sediar uma olimpíada porque a tranferência dos recursos investidos não terá outro destino senão o bolso dos corruptos envolviodos em obras superfaturadas.

Nós não podemos sediar uma olimpíada porque a liberação da verba das obras será feita via MEDIDAS PROVISÓRIAS em caráter de urgência como aconteceu nos Jogos Panamericanos de 2007.

Nós não podemos sediar uma olimpíada porque vamos criar a institucionalização de um mecanismo sistêmico e regular de evasão de recursos, lavagem de dinheiro e corrupção.

Nós não podemos sediar uma olimpíada porque a verba destinada a este evento deveria ser investida em saúde e educação.

NÃO, senhor presidente, nós não podemos sediar uma olimpíada porque temos o bolsa familia. E um pais com bolsa familia não é digno de sediar uma olimpiada!