Thursday, May 24, 2012

SAMPA BIKE: FERRAMENTA DE MARKETING EM ANO ELEITORAL

Embalado por uma vasta campanha publicitária, São Paulo ganha hoje seu primeiro sistema de empréstimo de bicicletas em larga escala. Mais do que um serviço à população, uma enorme oportunidade de marketing. Tanto para o banco patrocinador, quanto para a Prefeitura de São Paulo. Causador de transtornos a todos os cidadãos paulistanos, o trânsito é, atualmente, uma das prioridades da administração pública municipal, que, infelizmente, insiste em se esquivar do real enfrentamento ao problema. Oferecer bicicletas para uso da população é um arriscado paliativo, possível causador de acidentes e, até mesmo, maior nível de lentidão nas vias. A maioria das pessoas não está preparada para se locomover de bicicleta em meio ao caótico trânsito de São Paulo. Aqueles que podem ser considerados aptos a fazerem tal façanha, provavelmente já possuem suas bicicletas e as usam quando optam por pedalar ao invés de usar outros meios de locomoção. Quem, então, emprestaria uma bicicleta para se locomover? Possivelmente os mais despreparados ou curiosos e novatos de plantão. Sendo este o caso, o despreparo deste cidadão será colocado à prova em situações de altíssimo risco, além de causar possível retenção de velocidade nas ruas. São Paulo não dispõe de vias adequadas para o tráfego concomitante de veículos motores e bicicletas. Apenas alguns bairros possuem as chamadas Rotas de Bicicleta que, segundo a CET, são “percursos sinalizados verticalmente e com advertência e pintura de solo, indicando aos ciclistas e motoristas que a via é uma rota para bicicletas onde a atenção deve ser redobrada e a velocidade reduzida”. Ao contrário das ciclovias européias, claramente demarcadas nas calçadas ou, quando nas ruas - além de explicitamente pintadas - separadas por algum tipo de obstáculo que proteja o ciclista, essas “pseudo ciclovias” apenas colocam em risco a vida de quem se atreve a pedalar por elas. Uma simples placa na calçada e uma bicicleta mal pintada no asfalto, não caracterizam a existência de um espaço que garanta a segurança para quem se movimenta usando os pedais. Muito pelo contrário, criam maior exposição ao risco, uma vez que o motorista desavisado pode nem se aperceber da presença de um ciclista. Desta forma, misturado aos veículos, o ciclista acaba por oferecer concorrência aos carros, muitas vezes causando lentidão, pois não há um espaço no qual ele possa transitar protegido e sem reter quem vem atrás dele. O estímulo ao uso da bicicleta como meio de transporte deve ser consciente e responsável, não uma ferramenta de marketing em ano eleitoral. Antes de ofertar bicicletas aos cidadãos é preciso verificar a real condição das ruas para receber estes ciclistas. É preciso, prioritariamente, criar condições para que estas pessoas circulem com segurança e sem atrapalhar ainda mais o trânsito. Antes de oferecer um serviço desta natureza para a sua população, a Prefeitura de São Paulo deveria ter investido na criação de verdadeiras ciclo faixas (como as que existem em países europeus), aonde a sociedade vem, há décadas, estudando e testando a convivência entre veículos e bicicletas nas ruas. Com dez estações localizadas na região da Vila Mariana, onde não existem ciclo faixas e nem mesmo rotas de bicicleta, o serviço Bike Sampa coloca em risco a vida de quem dispuser deste serviço. O despreparado cidadão que se atrever a usar uma bicicleta oferecida por este serviço público tem poucas chances de encontrar nas redondezas uma dessas “pseudociclovias” (Rotas de Bicicleta), colocando em risco sua vida e pouco contribuindo para a solução do problema do trânsito da cidade. As estações de retirada das bicicletas deveriam estar localizadas próximas às Ciclo Faixas definitivas, essas sim, seguras e viáveis como alternativa ao uso de carros, principalmente por estarem conectadas a outros meios de transporte como trens e metrô. Com postos de retirada disponíveis em um bairro desprovido de infra-estrutura para absorver as bicicletas e oferecer segurança aos seus usuários, ao invés de tentar verdadeiramente enfrentar a questão do trânsito em São Paulo, o Bike Sampa assume a função de mídia exterior estrategicamente posicionada para o banco patrocinador e ferramenta de marketing para uma das atuais plataformas da Administração Municipal.

2 comments:

Senhorita Safo said...

Concordo Fernando. É aumentar a guerra por espaço no trânsito. Primeiro a cidade deveria ser preparada para os ciclistas. Mas planejamento, neste país, você sabe! Bjão

Edison Waetge Jr said...

Tem toda razão, Fê. São Paulo ainda não tem, infelizmente, infraestrutura adequada à circulação de bicicletas, salvo raras exceções.
Uma iniciativa que até poderia ser vista como bacana (e certamente está sendo capitalizada politicamente como tal), pode acabar criando um problema maior que o atual.
Se alguma coisa positiva fica desse episódio é que ele mostra o que desejo da população de usar bicicletas como meio de transporte ao invés do carro, está cada vez maior. Tomara que agora venham iniciativas que realmente ataquem o problema de frente.