Friday, August 29, 2008

VOU DE SONINHA 23

Já que o voto útil contra a Marta no segundo turno é inevitável e, neste caso, serei forçado a escolher entre o Alckmin e o Kassab, pela primeira vez, desde meu primeiro voto em 1989, NÃO votarei no PSDB no primeiro turno. A razão para isso é muito simples: quero protestar contra meu próprio partido. Quero manifestar da forma mais contudente meu imenso descontentamento com a falta de união e estratégia dos tucanos.
A candidatura de Geraldo Alckmim neste momento não é uma candidatura do partido. É uma candidatura praticamente supra-partidária. Desde o começo o PSDB mostrou-se desunido e a uninimidade em torno de Alckmin era tida como pouco provável. José Serra que, alinhado a Kassab, participava de cerimônias de inauguração de obras públicas ao lado do prefeito, não manifestava abertamente seu apoio a Alckmin. Fernando Henrique, na posição de "cacique-conselheiro", manteve a liturgia do cargo e dizia apoiar a decisão do partido. Aécio Neves, de olho em 2010, preferiu não se envolver nesta questão, mantendo-se ileso e protegido para poder estudar a estratégia que melhor lhe convier nas próximas eleições.
Pela segunda vez consecutiva, parecendo não ter aprendido a lição da campanha de 2006, Geraldo Alckmin, isolado e sem apoio, insistiu em lançar sua candidatura colocando em risco toda a "estratégia" do PSDB para 2010. Desafiando a estratégia local e nacional do partido, Alckmin, cercado de seus inexpressivos aliados, lançou sua candidatura em uma ridícula convenção do partido que não contou com a presença de nenhum nome mais expressivo do PSDB. Concomitantemente à realização da "convenção", membros do partido faziam manisfestações pró-Kassab e importantes Secretários Municipais pertencentes ao PSDB acompanhavam o Prefeito em sua caravana de inauguração de obras em período pré-eleitoral.
Dando continuidade à seqüência de erros infantis e praticamente imperdoáveis, o comitê tucano lançou uma campanha inexpressiva e sem qualquer apoio das figuras com maior popularidade do partido, deixando Geraldo Alckmin sem qualquer projeção. Ao invés de fazer uma campanha agressiva e propositiva, enfatizaram os problemas que qualquer cidadão comum conhece, deixando de apresentar qualquer proposta de Governo. Resultado: abriram uma ENORME avenida para o Kassab passar com uma campanha focada nas realizações de sua gestão, combatendo a estratégia do PT de Lula que pede para "deixar a Marta trabalhar". Dessa forma, a campanha ficou polarizada entre Kassab e Marta, ambos apresentando propostas de continuidade e Alckmin, "apagado", no meio da briga dos dois, posicionado apenas como uma promessa, já que as realizações de seu Governo ESTADUAL não são base para nenhuma campanha MUNICIPAL, uma vez que o pleito é para a Prefeitura e dois dos candidatos apresentam realizações palpáveis à população do Município.O resultado deste tremendo equívoco estratégico foi visto nas pesquisas pré-eleitorais: Alckmin e Kassab estão empatados tecnicamente. E, podem escrever, Geraldo Alckmin não deve passar para o segundo turno, criando um enorme risco para o PSDB em 2010 caso Kassab não vença Marta Suplicy.
É lamentável que o partido não tenha conseguido bloquear uma candidatura que, desde o ano passado, já se sabia, sem o apoio de Serra não daria certo. É também decepcinante que um "herdeiro" de Covas não tenha aprendido com seu mestre o fascinante jogo da estratégia política.

PENSAMENTO DO DIA

"Mestre é aquele que aprende".

Guimarães Rosa

Thursday, August 28, 2008

PERNAS DE LATA CAÇA-NÍQUEIS

Que o atual presidente da CBF não se importa muito com nosso futebol, sobrepondo interesses financeiros aos esportivos, todo mundo sabe. Também é unanimidade nacional a opinião de que Dunga não tem experiência e muito menos competência para comandar nossa seleção. E o Brasil inteiro já sabe que os jogadores preocupam-se mais com seus clubes do que com a seleção, poupando-se fisicamente para atuar nos jogos das ligas européias ao invés de torneios classificatórios e olímpicos. Mas que a CBF é mais importante do que o COB em uma olimpíada, ninguém sabia!

Confesso que não assisti nenhum jogo da seleção masculina de futebol, mas admito que caí na besteira de alimentar esperanças de uma medalha de ouro nesta modalidade. Principalmente por termos aquela "constelação" que teve direito a tratamento VIP com passagens de primeira classe e hospedagem em hotéis de cinco estrelas. Infelizmente, fui obrigado a perder a esperança do ouro ao acompanhar pela internet nosso fiasco perante a Argentina. Esta, porém, não foi a minha maior decepção na pífia participação do futebol na China. O que realmente me revoltou foi a atitude da delegação comandada por Ricardo Teixeira na cerimônia de entrega das medalhas. Ignorando as regras internacionais, os brasileiros subiram ao pódio com o adesivo da CBF precariamente pregado em suas camisas.

Esta postura causou-me indignação pelo fato de uma Federação suplantar um Comitê. Até mesmo constitucionalmente esta hierarquia existe. Como pode uma CBF, responsável apenas por uma equipe componente de nossa DELEGAÇÃO, considerar-se mais importante do que o próprio COB, gerenciador de toda a nossa participação? Não deveria haver hierarquia e disciplina no esporte? Imaginem se, a cada medalha, a federação do esporte vencedor fosse colocar seu escudo por cima da bandeira? Imagem a Maurren indo ao pódio com o símbolo da Confederação Brasileira de Atletismo?
Os jogadores da seleção entraram no estádio olímpico sozinhos integrando a delegação da CBF? Ou entraram como “atletas” integrantes da delegação brasileira? A atitude da CBF é uma quebra de protocolo comparável, por exemplo, a possível decisão de algum Governador ou Prefeito de astear a bandeira do Estado ou Município no mastro mais alto, deixando a bandeira brasileira abaixo. Por pura e simples arbitrariedade.

Na realidade esta ridícula e condenável arbitrariedade da delegação de futebol mostra-nos apenas quem são os dirigentes deste esporte em nosso país e qual o nível de patriotismo e comprometimento com a ética esportiva de nossos “pernas de lata”. É apenas uma clara demonstração de que a eles só lhes importa o seu universo e que estão mesmo olhando para os seus umbigos desprezando acintosamente um país inteiro. Que mais poderíamos esperar de “atletas” que, após perder uma semi-final de copa do mundo caem na balada? Que mais podemos esperar de quem inventa contusões para tirar férias e depois jogar em sua equipe EUROPÉIA? Que mais podemos esperar de quem só pensa em dinheiro? Trata-se mesmo de uma seleção caça-níqueis composta por um bando de pernas de lata.

É AMARELA. MAS É DE OURO.

"É amarela. Mas é de OURO!" Mostrando orgulhosamente a medalha em suas mãos, de forma elegante e nobre, o técnico José Roberto Guimarães “lavou a alma” repetindo esta frase em suas entrevistas após a conquista do ouro olímpico pela seleção feminina de vôlei.

Injustiçado e rotulado como “amarelão” após o quarto lugar da seleção feminina de vôlei em Atenas, José Roberto enfrentou dias difíceis. Mesmo tendo levado a seleção masculina de vôlei ao historico ouro de Barcelona em 1992, o competente profissional foi perseguido pela Federação Brasileira de Vôlei , pela mídia e pela opinião pública. Somente pelo apoio do Presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Nuzmann, o técnico permaneceu em seu cargo e pôde mostrar o quanto valem a seriedade, o planejamento estratégico e o profissionalismo no esporte.

Em sua primeira entrevista após a conquista do ouro feminino, equilibrado e centrado, o técnico agradeceu sua esposa e família pelo apoio nas horas difíceis e disse que sempre teve a certeza da volta por cima. Usando o slogan “a bola vai bater” em alusão à bola que não “caiu” nas Olimpíadas de Atenas, José Roberto reafirmou durante os quatro anos entre uma olimpíada e outra seu voto de confiança na vitória e assim motivou a recuperação da auto-estima das jogadoras. Após todo seu trabalho, finalmente a bola caiu. E nossa medalha chegou. Demonstrando um gostinho de vingança, o líder da delegação explicou a força do seu objetivo traduzido pela frase a bola vai bater : "Quando você está a um ponto de pelo menos ter uma prata e a bola não cai, aquilo não passa". Aliviado e discretamente demonstrando sua emoção, continuou seu desabafo: "Acho que sou um cara de sorte, privilegiado, por ter tido uma nova oportunidade de refazer um trabalho, ter força para isso, mesmo com alguns jogos difíceis que perdemos. Acho que paguei com juros e correção monetária. Vou voltar a sorrir".

Parabéns Josè Roberto, amarelos de vergonha deveriam estar os jogadores de futebol.

VAI LÁ, VAI !


Vai lá, Vai! Com estas palavras, após fazer o sinal da cruz, e com o olhar fixo de uma campeã, Maurren Maggi partiu em direção ao ouro olímpico. Seu olhar determinado, focado e “matador” chamou-me a atenção. Ela tinha certeza do seu sucesso e sabia que o lugar mais alto do pódio a esperava. Seus olhos eram a tradução de uma história de vida.

Desde que tive a oportunidade de conhecê-la pessoalmente em um evento de lançamento de uma marca de óculos, tenho acompanhado sua carreira. Naquela época, em 2001, ela era uma promessa do atletismo brasileiro e foi apresentada por um de seus atuais patrocinadores como uma atleta de alta performance que poderia trazer muitas surpresas. A partir de então comecei a prestar atenção em tudo que saia sobre ela na mídia e, infelizmente, a maior surpresa que tive foi a notícia sobre o teste antidoping. Não me lembro de julgá-la culpada ou inocente (até porque duvido muito dos testes de doping), só me recordo de ter ficado muito chateado com a situação. Ao final de contas, para quem é apaixonado por esportes, o Brasil estava “perdendo” uma grande promessa de medalhas e recordes no cenário esportivo mundial.

Acompanhei com atenção todo seu drama naqueles dias e torci muito por ela. Mas, sinceramente, nunca esperei que houvesse retorno possível. Senti o ostracismo a que fora condenada pela mídia e pouco soube dela até o ano passado quando atingiu índice suficiente para participar das olimpíadas. Confesso que, até aquela heróica conquista, não tinha dado muita atenção ao seu retorno porque, aí sim, injustamente havia condenado a atleta ao “fracasso”. Por diversos motivos, inclusive sua idade, não acreditava em sua capacidade de superação e achava que seu retorno poderia, no máximo, dar-lhe de volta a projeção Pan-Americana.

Felizmente errei feio em meu diagnóstico. Maurren superou todas as provas que a vida havia lhe imposto e, bravamente, lutou contra os incrédulos como eu. Casou-se, teve uma filha, separou-se, certamente enfrentou o dilema carreira x maternidade a que toda mulher está exposta, e treinou. Treinou muito. Treinou com gana, treinou com raça, treinou com vontade, treinou com espírito olímpico. Treinou para vencer e venceu. Provando que na vida só os grandes campeões são capazes de entender na derrota a oportunidade da vitória.

Parabéns Maurren. Você foi lá. E buscou o que era seu.




Tuesday, August 19, 2008

MUSEU DA CASA BRASILEIRA

Construída no iníco da década de 40 em estilo neoclássico francês, a mansão que hoje abriga o Museu da Casa Brasileira pertenceu ao casal Crespi Prado e foi um dos últimos casarões deste gênero a serem levantados em São Paulo.
Descendente da tradicional família Prado, Fábio da Silva Prado (1887-1963), estudou engenharia na Bélgica (Universidade de Liége) e regressou ao Brasil influenciado pela estética Européia dos anos 20. Tomado pela veia política da família, Fábio foi Prefeito de São Paulo de 1934 a 1938, em uma marcante passagem pelo executivo municipal. Em sua gestão foram inicadas as obras das avenidas 9 de julho, Rebouças e Anahngabaú, Viaduto do Chá e o Estádio Municipal do Pacaembú. Apaixonado por artes, criou em 1935 o Departamento de Cultura Municipal, cujo primeiro diretor foi Mário de Andrade.
Casado com Renata Crespi, Fábio, ao longo de sua união de mais de 40 anos, acumulou obras de arte que hoje compõem o acervo da Fundação Crespi-Prado. Dedicada em sua vida a obras sociais e culturais, após a morte de seu marido, Renata Crespi da Silva Prado, sem filhos, doou seu casarão e todas as preciosidades da família à Fundação Padre Anchieta com o intuito de que ali se preservasse a história da família e as peças de arte ao longo de tantos anos acumuladas. Poucos anos depois, no Governo de Abreu Sodré, foi inaugurado o Museu da Casa Brasileira, que hoje, além de toda a coleção do casal, permanenetemente exposta, conta com exposições temporárias.
Outro interessante ponto alto deste museu é o jardim de 6.000 metros quadrados, planejado nos moldes do paisagismo europeu de meados do século passado. Este novo conceito foi trazido pela aristocracia cafeeira paulista que, em suas mansões, criava espaços verdes para festas e passeios, deixando de lado os antigos quintais, espaços, ainda que nas cidades, utilizados para plantação de hiortas e criação de animais como porcos e galinhas. Na realidade, uma adaptação brasilleira dos jardins dos palácios e palacetes da Europa.
O Museu da Casa Brasileira é, sem dúvida, um dos pontos turísticos de São Paulo que merece ser visitado. Aos domingos o Programa Música no Museu traz concertos e shows gratuitos de vários gêneros musicais realizados sempre as onze horas da manhã. Um pequeno e charmoso restaurante chamado Quinta do Museu, serve pratos ao ar livre com a agradável vista do jardim dos Prado. Nos meses de agosto e setembro duas exposições temporárias valem ser visitadas: Utopias Arquitetônicas Chilenas e A casa Xinguana (sobre as casas indígenas do Alto Xingú).
O Museu está aberto ao público de terças a domigos das 10 as 20 hs, sendo, nos domingos, a visitição gratuita.

Friday, August 15, 2008

PROPAGANDA ELEITORAL

Vi o sorriso manso das barbas brancas,
antes temidas,
agora amadas.

Vi a humildade dissimulada
de quem é arrogante e tropeçou em sua própria ambição.

Vi um pateta transformado em político pelo voto dos ignorantes.

Vi uma promessa virar balela e cair na vala comum.

Ouvi tanta promessa que me senti feliz,
confiando, enfim, que o dia havia chegado.

Vi tanta gente junta,
tanto abraço apertado,
que até acreditei no futuro.

Vi tanta bandeira levantada,
gente rindo e chorando,

e um messias chegando.

Vi gente sofrida virar torcedor

acreditando num salvador.


Vi um país mostrado de todos os lados
E em vários ângulos.

Gente de todo canto,
toda raça,
toda religião.

Vi um país em meia hora.
De norte a sul,
Do frio ao calor.

Vi tudo isso na TV.

Só o que não vi foi o Brasil


Escrito em 01/10/2002 durante a campanha presidencial. Algo mudou?

Vai começar a campanha eleitoral gratuita. Tudo o que não veremos e ouviremos será a realidade de nossa cidade. As estatísticas explicarão tudo e os investimentos em obras resolverão nossos problemas.

Pena que, pouco mais de 24 horas após a vitória, os novos eleitos sofrerão de amnésioa crônica, esquecendo-se de suas promessas de campanha.

INÉRCIA POLÍTICA

25 de outubro de 2005. Há exatos 30 anos o brutal assassinato do jornalista Vladimir Herzog chocava a opinião pública e causava um clima de comoção geral na cidade de São Paulo. Vítima da inescrupulosa perseguição dos militares , “Vlado” é até hoje um ícone da resistência e da liberdade de expressão.

De lá para cá muitas coisas aconteceram. Até um ex-líder sindical (e ex-arauto da luta contra a ditadura!) tornou-se Presidente da República. Fato este que me leva a refletir com intensidade na veracidade ou na real intensidade das “mudanças” que ocorreram nos últimos trinta anos. Lula efetivamente se elegeu pautado nos valores éticos que tanto propagou? Fernando Henrique governou tão democraticamente como sempre preconizou?

Ambos foram eleitos pelo voto popular e inquestionavelmente representam a vontade da maioria do povo brasileiro. Ambos são frutos da queda da ditadura e da “nova” democracia brasileira. Ambos conquistaram o poder legitimamente. E de forma inquestionável.

Porém: exerceram eles o poder de forma legítima?

Esta é a pergunta que tanto me abala e para a qual as repostas se encontram tão bem elencadas neste manifesto. Ambos (independentemente dos recursos!) são os mais claros exemplos de como se utilizam os meios para se obter o fim tão sonhado: em igual escala, o exercício do poder!

Fernando Henrique Cardoso “vendeu-se” ao Congresso Nacional para aprovar a emenda da reeleição. Foi até fotografado ao lado de Paulo Maluf (fato este curiosamente repetido pelo PT de Marta Suplicy) e , uma vez no poder, governou por meio de medidas provisórias ,esquecendo-se da tão sonhada democracia.

Lula, por sua vez, instaurou um “parlamentarismo às avessas” leiloando o Congresso Nacional e transferindo totalmente o controle da “máquina do Governo” para o seu partido, instaurando a “ditadura do inchaço estatal”, esquecendo-se da tão propagada ética.

Na realidade, ambos chegaram ao tão sonhado PODER!!!E não conseguiram promover as mudanças prometidas em seus palanques eletrônicos e de madeira deixando-nos órfãos da democracia.

O que este manifesto nos traz é a necessidade indelével de mudanças estruturais profundas que efetivamente transformem nosso país em uma verdadeira democracia. Este inexpressivo manifesto exterioriza a inerte incapacidade de nossa classe política para promover a verdadeira democracia.

Pouca coisa mudou desde o assassinato de Vlado. Os fins continuam a justificar os meios. Apenas estes, é que são diferentes!
(desabafo escrito em 25/10/2005)

PÁGINAS DA VIDA

Para Fábio Martinelli

Triste e cabisbaixo esperava na ante-sala do crematório da Vila Alpina o início da cremação do pai de um amigo. Para mim essa espera representava uma enorme expectativa já que nunca havia presenciado uma cerimônia de cremação anteriormente. Meu avô falecera em 1990 enquanto eu viajava de férias e não pude comparecer à sua cremação. Desde então, sempre quis saber como era essa cerimônia. Confesso que não achei muito agradável, mas certamente é menos triste do que ver alguém jogando terra sobre uma pessoa querida. Das tristezas, talvez a menos dolorida. Mas morte é sempre morte, de um jeito ou de outro.

Enquanto esperávamos nesta pequena sala, apertada e escura, descobri um livro que ficava sobre uma mesa. Curioso que sou (não posso ver um livro por perto), fui até ele para ver do que se tratava. Era um livro de despedida que me levou a muitas estórias de vida. Ali mensagens eram deixadas para pessoas que haviam partido. É sempre muito difícil lidar com a morte e, naquele momento de dor do meu amigo, onde nada pude fazer, aquelas palavras me confortaram. Caligrafias diferentes, estórias diferentes, dores diferentes. Ao passar rapidamente meus olhos por aquelas páginas fui vendo o quanto a vida pode ser cruel, o quanto sofremos pelas pessoas queridas (que podem ou não reconhecer este esforço), e quão impotentes realmente somos.

Era poesia pura, estórias escritas à mão, às vezes com dificuldade por mãos trêmulas, desabafando em um momento de extrema dor. Frustrações, brigas, reconciliações passavam por aquelas páginas. Lendo os depoimentos ia percebendo minhas besteiras, minhas limitações e quanto tempo perco em bobagens nesta vida que pode ir embora de um minuto para o outro. Rapidamente, em poucos minutos, estava tendo uma tremenda lição de vida, com a maior simplicidade do mundo, da maneira mais singela possível. Aquelas pessoas, que ali deixaram suas mensagens para seus parentes, jamais poderão imaginar em suas vidas que estavam ajudando a um estranho a quem jamais conhecerão. Lágrimas corriam por meus olhos ao ver tanta complexidade, tanta iniquidade, tantos conflitos em tão pouco espaço e tempo. A vida de famílias estava ali sendo resumida. Anos de história, de trabalho, de conflitos. Quantos percalços não passou um sujeito que se desculpa e perdoa seu irmão em um livro de pêsames no dia de seu enterro? Quantos anos teriam eles ficado sem se falar?

Imaginando a história de cada uma daquelas famílias passei o tempo contornando a dor que se tornou inevitável e incontrolável ao ver meu amigo sofrer sem que nada eu pudesse fazer.

Na minha impotência, chorei. Por mim e por ele.
(Escrito em outubro de 2001).

Thursday, August 14, 2008

BADALOS DA MINHA ROTINA

Blem, blem, blem. Dez horas. Há pouco cheguei no escritório. Pessoa física, porque a jurídica chega mais tarde.
Blem, blem, blem. Onze horas. Já li meus e-mails pessoais, dei uma zapeada nos jornais e em alguns portais, tomei vários copos de café e "deletei" os e-mails dispensáveis. Começo a acordar e "dar teto" para pousos e decolagens.
Blem, blem, blem. Meio-dia. Já acordei depois de mais uns copos de café. Respondi os e-mails importantes, passei alguns ainda não tão importantes, mas estou vivo para o mundo.
Blem, blem, blem. Uma hora. Ponho meus pés na rua e caminho em direção ao sustento energético do almoço. Felizmente poucas vezes de carro, na maioria das vezes à pé.
Os ônibus passam e a rua dá sentido ao dia. Não estou encaixotado em um bloco de cimento onde não se vê a luz do dia, a cor do céu, o movimento das horas. As pessoas são pessoas e distanciam-se dos personagens criados pelo mundo de plástico das corporações e do consumo das praças de alimentação.
Blem, blem, blem. Três horas. Há pouco voltei do almoço. Vejo se tenho resposta dos e-mails, faço ligações, mando os e-mails importantes. Tomo café. Estou ligado.
Blem, blem, blem. Quatro horas. Ás vezes reuniões mais inteligentes dos que as que já tive. Redação à toda, notícias "pipocando", Brasil e mundo perto de mim.
Blem, blem, blem. Cinco horas. Espero o tempo passar.
Blem, blem,blem. Seis horas. Hora da Ave Maria. A tarde cai, a luz se vai, o dia se foi.
Blem, blem, blem. Sete horas. Hora de ver minha filha e minha mulher.
Blem, blem, blem. Nos sinos do relógio da Igreja da Consolação, os badalos da minha rotina.

Colírio para os olhos

Jorge Fernando sempre foi um amigo fiel e companheiro. Que neste últimos tempos tem se mostrado mais amigo do que nunca. Sem dúvida alguma é nas horas difíceis que conhecemos as pessoas e os verdadeiros amigos. E ele tem se mostrado presente.
Jornalista dos tempos românticos dos jornais e das grandes redações, Jorge tem histórias e mais histórias para contar. Um verdadeiro arquivo vivo de passagens engraçadas e interessantes que ele sempre conta com muita propriedade e bom humor. Emendando uma na outra, ele me faz lembrar de um saudoso primo que há três anos se foi e contava histórias como ninguém. Como todo bom pisciano é sonhador e vive nas nuvens, em uma estratosfera acima ou abaixo da minha. Juntos voamos e deixamos abaixo a vida terrena. Sempre que nos encontramos o tempo muda de dimensão e a vida tem o sabor que ela deveria ter. O Jorge tem o dom de tirar a vida do comum, subtrair o cotidiano de meu vocabulário e lavar a minha alma.
Hoje fui presenteado por sua companhia em um almoço na "cidade". Passeamos observando este universo tão único que é o centro de São Paulo, com ele contando histórias do tempo em que todos iam "à cidade". Ou mesmo do tempo em que a "cidade" não é mais "cidade", mas continua com a cara de "cidade". Uma caminhada lúdica, recheada de humor e fantasias, piadas e personagens. Um passeio onde observamos detalhes das portas antigas e suas gigantescas maçanetas, o ainda imponente Edifício Martinelli e o lindo Largo do São Bento. Imaginamos os homens de chapéu, os bondes, as casas do comércio e a riqueza da época dos Matarazzo e dos barões do café. Uma linda viagem cuja estação final foi o Centro Cultural Banco do Brasil que tem, acima da sua porta de entrada, do lado de dentro, um maravilhoso relógio dourado que deve ter pelo menos um século.
O centro de São Paulo continua sendo um colírio para os olhos.

Só muda o endereço

Ontem à noite em um concorrido lançamento de livro na Livraria da Vila presenciei um diálogo entre dois dos mais renomados jornalistas do Brasil (cujos nomes não revelarei para não ser anti-ético).

Após um debate sobre jornalismo biográfico, recehado de historias interessantes, no meio da escadaria, um jornalista segura o outro pelo braço e diz:

- Estamos indo a um restaurante aqui pertinho, vem com a gente.

A resposta que só muda de endereço foi a seguinte:

- Não vai dar, minha mulher está me esperando em casa, faz quinze dias que estou rodando pelo Brasil para lançar meu livro e ela vai ficar furiosa.

O colega insistiu:

- Vamos lá, toma pelo menos um "vinhozinho" com a gente.

Impulsivamente e, sem pensar nas consequencias futuras, o tal jornalista respondeu.

- Tá bom , então vamos. Não vou perder essa.

O cara deve ter perdido o juízo.Posso imaginar a ligação dele para sua esposa que o esperava em casa por volta das 21 horas para dizer que ia chegar um pouquinho mais tarde.

Tomara que por conta do tal "vinhozinho" ele não tenha que ter ido ao vizinho
.

Tuesday, August 12, 2008

SLOGAN DA LEI SECA

Pensando nesta manhã no trânsito criei um slogan para a Lei Seca:

"AS BREJA VÃO PRO BREJO"

A Copeira mais informada do Brasil

A copeira mais informada do Brasil deve ser a Dna. Terezinha, funcionária da Imprensa Editorial.
Todos os dias, após fazer e servir um delicioso e forte café, limpar e arrumar as mesas e tirar a poeira dos teclados, ela se senta em sua mesinha da copa e lê.

Confesso que até sinto uma pontinha de inveja da sua rotina matinal. Já que sou "cafeinado", quando passo na copinha várias vezes para abastecer minha "caneca", lá está ela mantendo-se informada. E o pior é que, cada vez que eu volto, ela está lendo um outro veículo de comunicação. Ali tenho as notícias comentadas pela Dna. Terezinha que lê, PELO MENOS, o Estado e a Folha, passando pelo O GLOBO e Correio Braziliense.

Monday, August 04, 2008

SILÊNCIO

Silêncio sem sentido.
Sentido profundo dentro de mim.

Eco, eco, eco.
Bate e não volta.
Silêncio e nenhuma resposta.

Melodia sem sem letra,
poesia sem verso,
música sem harmonia.

Vácuo insuportável
dentro do eu que desejo ser.