Já que o voto útil contra a Marta no segundo turno é inevitável e, neste caso, serei forçado a escolher entre o Alckmin e o Kassab, pela primeira vez, desde meu primeiro voto em 1989, NÃO votarei no PSDB no primeiro turno. A razão para isso é muito simples: quero protestar contra meu próprio partido. Quero manifestar da forma mais contudente meu imenso descontentamento com a falta de união e estratégia dos tucanos.
A candidatura de Geraldo Alckmim neste momento não é uma candidatura do partido. É uma candidatura praticamente supra-partidária. Desde o começo o PSDB mostrou-se desunido e a uninimidade em torno de Alckmin era tida como pouco provável. José Serra que, alinhado a Kassab, participava de cerimônias de inauguração de obras públicas ao lado do prefeito, não manifestava abertamente seu apoio a Alckmin. Fernando Henrique, na posição de "cacique-conselheiro", manteve a liturgia do cargo e dizia apoiar a decisão do partido. Aécio Neves, de olho em 2010, preferiu não se envolver nesta questão, mantendo-se ileso e protegido para poder estudar a estratégia que melhor lhe convier nas próximas eleições.
Pela segunda vez consecutiva, parecendo não ter aprendido a lição da campanha de 2006, Geraldo Alckmin, isolado e sem apoio, insistiu em lançar sua candidatura colocando em risco toda a "estratégia" do PSDB para 2010. Desafiando a estratégia local e nacional do partido, Alckmin, cercado de seus inexpressivos aliados, lançou sua candidatura em uma ridícula convenção do partido que não contou com a presença de nenhum nome mais expressivo do PSDB. Concomitantemente à realização da "convenção", membros do partido faziam manisfestações pró-Kassab e importantes Secretários Municipais pertencentes ao PSDB acompanhavam o Prefeito em sua caravana de inauguração de obras em período pré-eleitoral.
Dando continuidade à seqüência de erros infantis e praticamente imperdoáveis, o comitê tucano lançou uma campanha inexpressiva e sem qualquer apoio das figuras com maior popularidade do partido, deixando Geraldo Alckmin sem qualquer projeção. Ao invés de fazer uma campanha agressiva e propositiva, enfatizaram os problemas que qualquer cidadão comum conhece, deixando de apresentar qualquer proposta de Governo. Resultado: abriram uma ENORME avenida para o Kassab passar com uma campanha focada nas realizações de sua gestão, combatendo a estratégia do PT de Lula que pede para "deixar a Marta trabalhar". Dessa forma, a campanha ficou polarizada entre Kassab e Marta, ambos apresentando propostas de continuidade e Alckmin, "apagado", no meio da briga dos dois, posicionado apenas como uma promessa, já que as realizações de seu Governo ESTADUAL não são base para nenhuma campanha MUNICIPAL, uma vez que o pleito é para a Prefeitura e dois dos candidatos apresentam realizações palpáveis à população do Município.O resultado deste tremendo equívoco estratégico foi visto nas pesquisas pré-eleitorais: Alckmin e Kassab estão empatados tecnicamente. E, podem escrever, Geraldo Alckmin não deve passar para o segundo turno, criando um enorme risco para o PSDB em 2010 caso Kassab não vença Marta Suplicy.
É lamentável que o partido não tenha conseguido bloquear uma candidatura que, desde o ano passado, já se sabia, sem o apoio de Serra não daria certo. É também decepcinante que um "herdeiro" de Covas não tenha aprendido com seu mestre o fascinante jogo da estratégia política.