Wednesday, March 25, 2009

HORA DO PLANETA











Em campanha adaptada para o Brasil pela DM9DDB, a Hora do Planeta está sendo divulgada pelo Brasil afora com a participação de diversos artistas. Convido quem pasar por este BLOG a particiar deste importante movimento que começou em 2007 na cidade de Sidney e, em sua terceira edição,será feito em quase mil cidades.

No Brasil grandes capitais e cidades do interior apagarão as luzes de seus monumentos. O Rio de Janeiro foi a cidade brasileira escolhida para lançar a Hora do Planeta no Brasil. Em ato realizado no mês de janeiro, o Prefeito Eduardo Paes anunciou que desligará as luzes de monumentos cariocas como o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar, o Parque do Flamengo e a orla de Copacabana, que terá a segurança reforçada pelas autoridades competentes.

Em São Paulo o Prefeito Gilberto Kassab assinou o termo de adesão nesta segunda-feira (23/03), determinando o apagar das luzes da Ponte Estaiada, do Monumento às Bandeiras, Viaduto do Chá, estádio do Pacaembu, Teatro Municipal, Obelisco e Parque do Ibirapuera.

Além dos monumentos públicos, instituições da cidade como o Edifício Copan, o Instituto Butantan e o MAM (Museu de Arte Moderna) já anunciaram a sua participação na Hora do Planeta. Prédios comerciais como o World Trade Center, o Sheraton Hotel e a sede da Vivo também anunciaram sua adesão e apagarão suas luzes externas por 60 minutos na noite de sábado.

A Hora do Planeta também pode ser aproveitada para um programa romântico. O restaurante carioca Via Sete fazer uma ação criativa e politicamente correta: na noite do dia 28 de março, as luzes serão apagadas e o jantar será servido à luz de velas.

Dia 28 de março, das 20:30 às 21:30 (APENAS 60 MINUTOS) apague as luzes da sua casa.

Friday, March 20, 2009

"TÔ" PRA VER OUTRA IGUAL


Há 27 anos ela nos deixou. Uma overdose a levou aos 36 anos de idade em 19 de março de 1982. Naquele mês não estava aqui no Brasil, minha família havia viajado aos Estados Unidos de férias. Naquela época não havia internet e as ligações internacionais eram caríssimas e difíceis. Estar fora do país era praticamente estar “ilhado”. Fiquei sabendo da morte de Elis através de uma carta enviada por meu avô à minha mãe. Lembro-me claramente da cena: estávamos na cozinha da casa de nossos amigos americanos e minha mãe lia silenciosamente a carta até que ela parou, respirou fundo e disse: “que pena, a Elis morreu”.


Apesar de ela ter morrido quando eu tinha apenas 12 anos, por influência de minha mãe aprendi a gostar da Elis. Lembro-me que várias músicas da Pimentinha compuseram a trilha sonora da minha infância. Recordo-me também dos LPs que minha mãe comprava e gostava de ouvir em um “precário” aparelho de som da década de 70. Eu Adorava cantar Romaria e até me aventurei a tocá-la no violão quando tomei aulas deste instrumento.


Depois de 1982, durante anos, todo março lembrava-se a passagem de mais um ano sem a Elis com especiais na TV, reportagens em jornais e memoráveis vídeos sobre os festivais dos anos 60 em que ela fora lançada. Hoje, por ocasião da passagem de mais um ano sem a sua presença entre nós, a grande imprensa pouco homenageou a memória da ELIS.


Coincidentemente, ontem li um trecho da fantástica biografia de André Midani (“Música, ídolos e poder – do vinil ao Download”, Editora Nova fronteira), em que ele relata um dos pontos mais altos da carreira de Elis.


Abaixo o trecho em que André Midani (à época presidente da gravadora que detinha os direitos da cantora) relata a emoção de Elis ao cantar no Festival de Montreux, na Suíça.


“No ano seguinte, 1979, levei Elis, acompanhada por César Camargo Mariano e Hermeto Pascoal com seu grupo. A demanda por entradas era tamanha que decidimos – Claude e eu – acrescentar uma sessão à tarde. A apresentação de Hermeto, que abriria a noite para Elis, provocou uma comoção enorme, apoteótica, considerando-se o fato de que ele ainda era pouco conhecido do público europeu. Elis, Desde 1967, tinha feito muitas incurssões pela Europa e a cada apresentação em Paris, Londres, Estocolmo e Bruxelas seu prestígio aumentava, sobretudo nos meios profissionais, que a viam como sucessora em potencial da Ella Fitzgerald. Eram dez da noite quando Elis, feito um furacão, entrou no placo. Eu costumava ficar na coxia, atrás do palco, assistindo aos shows pelo circuito interno de TV. Naquela ocasião, estava saboreando de antemão um final que seria um apogeu. Fui pegar uma água; ao voltar, ouvi do stage manager:

- Olha, sua artista vai desmaiar no palco...

De fato Elis suava aos montes, estava pálida e ofegante, como que carregando o mundo nas costas. Peguei minha água, coloquei-me de quatro, e foi assim que entrei pelos fundos do palco, o mais discretamente possível, em direção a Elis. Nesse momento, Elis virou-se para o César que estava ao piano, e me vendo lá plantado com o copo na mão, precipitou-se em minha direção, bebeu água de um jato e voltou ao microfone. Suou um bocado mais e cantou como se fosse seu calvário, dramaticamente, majestosamente, e, pouco a pouco, o peso do mundo foi se aliviando de suas costas. O final do show foi espetacular e grandioso – o público ovacionou com o pedido de 11 bis...


...Depois do show, jantando no restaurante do cassino, perguntei baixinho à Elis o que havia sucedido:


- Quando pisei no palco, lembrei que Ella Fitzgerald tinha pisado dois dias antes naquele mesmo chão, lembrei que sou filha de uma lavadeira. Eu fiquei tão transtornada e queria morrer! André, você promete que não vai lançar o disco?


- Prometo.”

André Midani cumpriu a promessa enquanto Elis estava viva e relata, emocionadamente, seu dilema após a morte da cantora sobre lançar ou não o disco. Felizmente ele quebrou a promessa e o Brasil ganhou um dos melhores registros da energia e vivacidade de Elis Regina no LP cuja capa está acima.

Saudades desta filha de lavadeira que cantava como ninguém!

Thursday, March 12, 2009

SOLUÇÃO NÃO PALEATIVA

Em reunião realizada ontem na Administração do Parque da Aclimação, o Secretário Municipal do Verde e Meio Ambiente, Sr. Eduardo Jorge, recebeu membros do Conselho Gestor do Parque e alguns frequentadores, como eu, interessados em obter mais informações sobre as providências que serão tomadas pela Prefeitura em relação ao lago do parque.
Com uma postura extremamente calma e segura, o Secretário, acompanhado de técnicos da SIURB (Secretaria Municipal de Infra-estrutura e Obras) expôs claramente os fatos e as razões pelas quais a Prefeitura resolveu não deixar o lago vazio e fazer a limpeza imediatamente, como eu e tantos outros gostaríamos. Segundo o Secretário a obra emergencial, ou seja, a troca do vertedouro que se rompeu, já foi realizada (dispensando licitação) e soluciona o problema de novo vazamento em caso de outra chuva torrencial. Questionado sobre a realização imediata do desassoreamento das margens e dragagem do lodo, o Secretário se posicionou dizendo que esta é uma obra que pode trazer riscos à comunidade local dada a necessidade de transporte do lixo e retirada do mesmo pelas vias do bairro. Segundo ele, é necessário um tratamento deste lodo antes da retirada para diminuir a tonelagem e os consequentes riscos de contaminação no transporte. Além disso, o Secretário explicou que existe legalmente a necessidade de abertura de licitação para a realização de qualquer obra de limpeza que seja necessária. Não seria possível entrar com máquinas e simplesmente limpar o fundo do lago.
Após estas explicações iniciais, um engenheiro da SIURB, resposável pelas obras no Bairro da Aclimação e no Parque, nos expôs um projeto integrado de escoamento de água de todo o bairro e do lago do Parque. O técnico nos mostrou , ainda, o projeto de um novo vertedouro com regulagem do fluxo de escoamento da água que possibilitará a prevenção deste tipo de acidentes. A obra, estimada em R$ 17 milhões, já está em processo de licitação e deve contar com verba do Governo Federal, sendo que se espera o resultado da mesma em até 4 meses. Dai o prazo que tem sido divulgado pela imprensa de mais ou menos um ano para a realização de todas as obras.
Não entendo muito bem da parte técnica e não posso dizer, após as explicações do Sr. Secretário e engenheiros, se seria melhor fazer as obras neste monento ou não. Tão pouco sei avaliar se o projeto exposto é adequado ou não. Tudo o que posso dizer é que a conduta do Sr. Eduardo Jorge me pareceu séria e não "profilática". Tive a impressão de que o problema está sendo tratado em sua raiz e deve, após solucionado, melhorar efetivamente as condições de escoamento de águas em caso de chuva torrencial não só no lago, mas, principalmente no bairro da Aclimação e arredores, banhados pelo córrego Tamanduateí.
Sempre critiquei nossa Administração Pública com suas habituais políticas e decisões que não resolvem o problema de forma definitiva ou pelo menos mais incisiva. Com bolsas de distribuição de renda e cotas de vagas em universdidades, não vejo resolvidos os problemas de distribuição de renda e participação na Universidade Pública. Vejo, sim, a real "síndrome da solução paleativa", termo que criei para definir este tipo de política pública pouco resolutiva. No caso em questão, acho louvável a postura da Secretaria do Verde e Meio Ambiente e quero dar meu voto de confiança a este Secretário e sua equipe. Se o projeto for bom e as obras realmente forem realizadas, creio que teremos uma solução definitiva e não provisória. De minha parte cabem duas coisas: acreditar em pessoas do bem que atuam de forma séria em nossa administração pública e fiscalizar ativamente o andamento de todo o processo.
PS: Vale lembrar que a politização e polarização em torno deste problema estão em franco andamento com políticos que querem chamar para si uma responsabilidade que não lhes cabe.

UM É POUCO, DOIS É BOM, TRÊS É DEMAIS

Ronaldo Fenônemo,

Tudo bem que você tinha que voltar e até me fez torcer por um gol do Corinthians. Você o fez e ajudou o São Paulo a não ficar tão distante do Palmeiras. Vibrei bastante e até caí no ridiculo de gritar "Fenômeno" da janela do meu apartamento.

Ontem você jogou até os trinta do segundo e marcou de novo. Um gol que praticamente nenhum outro marcaria. A bola veio meio "torta", difícil de matar e você, mesmo assim, arrematou pro fundo do gol.

SHOW DE BOLA.

Mas agora tá bom, viu, pode ficar meio parado em campo, sem muita ação. Fica longe da área, chega perto não!

Porque no seu caso, jogando com a camisa do Corinthians, um é pouco, dois é bom e três já é DEMAIS!

Tuesday, March 10, 2009

VENDEDOR DE CLASSIFICADOS

Passei hoje por uma situação engraçada. Não só engraçada como surreal por ter acontecido em pleno Século XXI e na era digital. Eu, que já vendi tanta coisa nesta vida afora, nunca tinha passado nunca tinha passado por uma situação destas em minha vida profissional. Estava concentrado mandando um e-mail para a SulAmérica quando minha assistente me transferiu uma ligação dizendo que era um cara meio esquisito que queria falar de anúncio. Claro que atendi querendo trazer "algum" para a revista onde trabalho e comercializo espaços publicitários.
Animado por, em tempos de crise, receber um telefonema de alguém querendo anunciar, atendi prontamente o telefone. Meu dileto interlocutor nem me cumprimentou direito e disparou: "anota aí o texto do meu anúncio". E começou a DITAR, pasmem, DITAR o texto de um anúncio de crédito e financiamentos. Nem digitar ele falou. E nem tempo para abrir um arquivo, pensar no que fazer, ele me deu. Sem reação, peguei um caderno e fui, como um aluno aplicado, anotando o que o cara DITAVA. Meus cabelos começando a ficar brancos podem atestar há quanto tempo não sei o que é um ditado. Mas lá estava eu, tentando me controlar para não morrer de rir na cara do sujeito que, sério e compenetrado em sua tarefa, ainda perguntava assim: "tá anotando?".

Ao final do ditado, o DITO cujo me perguntou: dá para por nos classificados? Ainda em estado de choque, perguntei se ele estava falando com a revista certa, a Revista Imprensa, porque não temos classificados. Ele me respondeu que sim, que sabia da nossa revista por um amigo que veio de São paulo e que, já que não tínhamos classificaos, ele queria um rodapé. Dado o tamanho do texto ditado falei que ele era meio grande para um rodapé de página. A resposta me surpreenderia não tivesse eu travado um diálogo passado, em pleno século XXI, por um vendedor de classificados por TELEFONE. "Ah, claro que dá", disporou ele. " Esse anunciozinho cabe até num cartão de visitas".

Resultado: se na próxima edição sair um anúncio de crédito de R$ 3 mil a R$ 200 Mil para capital de giro é porque o cara pagou ANTECIPADO E CASH! E a diretoria me autorizou a vender este "classificado".

Friday, March 06, 2009

FENÔMENO INQUESTIONÁVEL

Rede Globo e Bandeirantes tiveram audência recorde na transmissão de um jogo da fase inicial da Copa do Brasil na última quarta-feira. Não é de se estranhar: Ronaldo Fenômeno ia voltar a campo depois de um ano e dezenove dias. Parace que todo o Brasil parou para esperar seu maior mito do futebol atual voltar a atuar. Manchetes de jornais, programas de televisão (mesmo os não específicos de esporte), programas matutinos de radio noticiavam a volta do fenômeno com grande expectativa.
Pela primeira vez em minha vida assisti um jogo do Corinthians que não fosse contra o São Paulo, meu time. Nem contra argentinos ou mesmo na Copa da FIFA que o Corinthians disputou fui capaz de assitir sequer meio tempo de um jogo do Corinthians. Mas para ver a volta de Ronaldo, sentei-me em frente à TV e assisti um tempo e meio de um jogo do Corinthians. Inacreditável, quase um jogo inteiro. No primeiro tempo não via nada a não ser o relógio contando os minutos passando para que logo Ronaldo pudesse entrar em campo. Mesmo sabendo que ele jogaria só no segundo tempo, não mudei de canal e fiquei firme confirmando a audiência recorde.
A expectativa aumentou quando todos os reservas foram para o aquecimento. Aos vinte e dois minutos do segundo tempo, tenho que admitir, meu coração bateu mais forte ao vê-lo entrando novamente em campo. Parecia que ele não vestia a camisa do Corinthians, na verdade, naquele momento Ronaldo vestia a camisa do Brasil. Nada mais me importava, Ronaldo estava correndo em gramados brasileiros e sua presença me fez virar corinthiano, ainda que por vinte e sete minutos! Sua falta de forma, pouca agilidade e tempo de bola eram superadas pela lembrança dos gols das copas e das arrancadas que faziam dos zagueiros meros retardatários uma volta atrás de Ronaldo. E o ritmo que lhe faltava era cadenciado pela fiel.
Salve Ronaldo. Você ém um fenômeno inquestionável. Capaz de outro fenômeno: fazer com que eu, pelo menos uma vez na vida, torça por um gol do Corinthians. Desde que seja seu.

Lago que reflete nossa política

A foto do lago do Parque da Aclimação que foi publicada na Veja S.Paulo desta semana não traduz, de maneira alguma, a desolação de quem, como eu, teve a oportunidade de vê-lo de vazio.

Na semana passada o parque foi reaberto ao público. Praticamente em “estado de sítio”. O cenário que encontrei na sexta-feira, 27 de fevereiro, um dia após a reabertura, era assustador. Um enorme lamaçal com um monte de lixo espalhado pelas margens, assemelhando-se a uma cena que vemos com muita freqüência nas ruas: as bocas de lobo entupidas de lixo. Buracos registravam o desespero dos peixes que tentaram se enfiar na lama para não serem levados pela correnteza que deve ter feito do vertedouro um enorme ralo. Nenhum sinal da vida animal que compunha o ecossistema do lago. Quem chegava ao parque parava para contemplar aquele espetáculo de horror. Naquela manhã, o parque estava silencioso.
Para desespero de quem gosta da natureza, a Prefeitura tomou uma decisão populista e nada sensata: consertar rapidamente a base do vertedouro, criando supostas condições para que o lago volte a ter água. Mesmo com todo o lixo acumulado. Voltei na segunda-feira e a obra de manutenção já estava praticamente concluída. Ontem, o lago começou a ser enchido e a previsão é de que em breve ele volte ao nível anterior.

Lamento profundamente esta decisão porque o melhor para o Parque seria a remoção de todo aquele lixo, a realização de uma obra de desassoreamento das margens e então, somente após a total limpeza, encher novamente o lago. Entretanto nada disso será feito e o lixo permanecerá no lodo que virou o fundo daquela área. Diz a Prefeitura que fará a limpeza com o lago cheio e que isso não trará qualquer prejuízo ao ecossistema. Mesmo que isso aconteça, trata-se de uma estupidez encher um lago que está vazio e sujo para depois remover a sujeira que ficou debaixo d’água e que JÁ ESTAVA AO AR LIVRE PRONTA PARA SER REMOVIDA.

No dia 4 de março o Deputadop Estadual Fernando Capez entrou com uma representação requerindo procedimentoinvestigatório para apuração de responsabilidades. No dia 12 de março represententes da Associação dos Amigos e Usuários do Parque da Aclimação (ASSUAPA) terão uma reunião no Ministério Público para pressionálo a fim de que ele entre, em caráter de emergência, com uma Ação Civil Pública para, via liminar, embargar as atuais medidas da Prefeitura. Se isto acontecer, o lago poderá ser limpo ainda com um reduzido nível de água. As chances, porém, são mínimas. Uma pena. Como sempre, a Administração Pública procura colocar os problemas longe do alcance dos olhos da população.

Monday, March 02, 2009

"DITABRANDA" ?

Há duas semanas discute-se a polêmica causada pela folha de s.paulo ao criar o termo “ditabranda” em seu editorial publicado no dia 17 de fevereiro. O texto, intitulado “Limites a Chávez”, comparando as atuais manobras políticas de Chávez a ditaduras latino-americanas de décadas passadas, colocou textualmente que “as chamadas "ditabrandas" -caso do Brasil entre 1964 e 1985- partiam de uma ruptura institucional e depois preservavam ou instituíam formas controladas de disputa política e acesso à Justiça”.

Tal posição provocou a indignação de diversos leitores que enviaram cartas de protesto, algumas delas publicadas no dia seguinte. A nota da redação em relação a tais cartas foi desastrosa uma vez que o jornal justificou a utilização do termo alegando que, “na comparação com outros regimes instalados na região no período, a ditadura brasileira apresentou níveis baixos de violência política e institucional.”

Talvez haja estatísticas apontando que o número de mortes provocadas por nosso regime militar tenha sido menor se comparado a outros da mesma época. Porém, mesmo embasado por estatísticas, adjetivar o nosso regime militar de brando, pareceu-me falta de bom senso. Ainda que a folha de s.paulo tenha utilizado este recurso para defender a tese de que o Chávez esteja, ao contrário de outros regimes, submentendo o Legislativo e o Judiciário aos desígnios da Presidência além de, paulatinamente, minar por dentro as instituições e o controle democrático.

Mas será que existe alguma diferença entre a atual prática de Chávez e o que foi feito em nosso país? Teria mesmo a nossa dinastia militar “preservado ou instituído formas controladas de disputa política e acesso à Justiça”? Que formas controladas foram estas? O uso de Atos Institucionais? Não paro de pensar onde pode ser encontrada “brandura” em uma ditadura. Seja ela de direita ou esquerda. De todas as formas há rupturas institucionais do Estado de direito. Ambos são regimes totalitários e sempre, de um lado ou de outro, o direito à liberdade de pensamento e expressão passa a ser limitado e monitorado (geralmente pelo uso da violência). E, invariavelmente, em qualquer regime totalitário, o acesso a Justiça fica comprometido uma vez que, a partir de uma guinada ideológica, ela deixa, peremptoriamente, de ser imparcial, passando a defender os interesses de um Estado parcial.

Não concordo com a tese defendida no editorial da Folha em nenhum dos dois aspectos, seja sobre a perspectiva da questão da violência, seja sob a ótica da manutenção parcial dos mecanismos de defesa de disputa política e acesso à Justiça. Nossa “ditabranda” utilizou a mesma truculência policial dos outros regimes militares na cruel perseguição aos opositores do regime, sendo que um menor número de mortos jamais seria argumento para justificar uma “brandura” em nossa dinastia militar. Além do mais, onde está o acesso à Justiça com uma Seqüência de Atos Institucionais que tolheram os direitos civis? Seria a dissolução de um Congresso e a cassação de direitos políticos a criação de formas controladas de disputa política? Seriam os políticos “biônicos” a síntese destas tais formas controladas de disputa política? Onde esta o acesso à justiça quando se tem um sensor dentro de sua redação cerceando sua liberdade de expressão? E a que justiça recorreram os parentes de centenas de pessoas que sumiram sem explicação e até hoje ainda esperam por ela?

Quando era criança, ao lado de minha casa uma vizinha, professora universitária, desapareceu do dia para a noite e todo o bairro comentou sigilosamente este fato. Não sofri a perseguição política daqueles anos porque nasci em 1970 mas cresci sob o terror dos anos de chumbo sentindo em minha pele, mesmo pequeno, a força brutal do patrulhamento ideológico da época. Lembro-me muito bem que, durante a década de 70, ao freqüentar as 5 primeiras séries, tinha medo de fazer perguntas aos professores (sobretudo aos de Educação Moral e Cívica) que nos educavam sobre a ideologia que imperava em nosso regime. Frequentemente perguntava a meus pais se podia falar em classe. Tenho a nítida recordação de meus primeiros anos na escola como tempos em que a “lavagem cerebral” era posta em prática nas salas de aula.

Como posso eu, tendo sentido, ainda criança, a brutalidade deste regime, concordar com o termo “ditabranda”? A brandura está nos olhos daqueles que querem apagar as marcas de uma história doída demais para quem a viveu.