Thursday, December 03, 2009

MUDANDO DE LADO, MAS NÃO DE POSIÇÃO

A Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) sorteou hoje de manhã 376apartamentos no Bairro do Ipiranga para servidores públicos estaduais. O sorteio eletrônico foi realizado na Associação dos Funcionários Públicos do Estado de São Paulo (AFPESP) e contou com a presença de mais de 200 pessoas.

Como fui um dos integrantes da equipe organizadora do sorteio, estive presente ao evento. Senti-me bem, alegre por saber que pelo menos 376 famílias teriam uma nova vida a partir de hoje. Fiquei bastante feliz por poder parabenizar alguns dos contemplados e ver a emoção em seus olhos. Mas infelizmente nem todos saíram de lá com seu novo apartamento.

Ao final da cerimônia uma senhora aposentada, cabelos brancos e corpo "curvado", se aproximou de mim e falou que tinha um protesto a fazer. Muito educada, disse primeiro que estava triste por nao ter sido sorteada, mas que entendia que não tinha sido a vez dela. Lamentei e tentei encorajá-la dizendo que haverá novo sorteio e que o período de inscrições vai de janeiro a março.

Falando baixo e, com semblante desapontado, a senhora começou sua queixa.

- "Poxa vida, por quê vocês não fazem mais apartamentos? A gente vê tanto cortiço por aí, tanto prédio abandonado, tanta barbaridade, tanta oportunidade? Por quê vocês não constróem mais?

Em um segundo percebi que havia mudado de lado. Respondia agora pelo Estado e não estava mais protestando ou reclamando do "lado de fora".

Respirei fundo e falei:

- Concordo plenamente, a senhora tem toda a razão. Existem mesmo muitos cortiços e prédios abandonados, não só no centro de Sâo Paulo. Oportunidade é o que não nos falta. Mas existe muita burocracia e muita demora nos trâmites legais, então isso acaba dificultando as coisas. Existe pouca verba para a necessidade e tem muita gente para ser atendida. A senhora tem toda a razão.

Mais uma pausa e a resposta ganhou um "certo ar político":

- Mas o esforço que está sendo feito não é pequeno. Este sorteio do qual a senhora participou é uma inovação, não havia antes este programa. Temos entregue vários apartamentos e casas pelo Estado afora e ainda vamos construir mais. Este apartamentos que foram entregues hoje são muito bons e modernos.

Senti que minhas palavras pouco adiantaram para quem não havia conseguido um apartamento de 50 metros quadrados no Ipiranga. Fiquei triste por aquela senhora, mas, pela primeira vez na vida, senti na pele o que é estar do outro lado. O que recebe as pedradas.

Posso dizer que foi uma sensação profunda, intensa e "bagunçada". Passei por um misto de tristeza por ver a decepção de uma pessoa que disse sonhar com sua casa própria (algo tão comum entre nós). Ao mesmo tempo, estava seguro de que as minhas últimas palavras, tanto quanto as primeiras, haviam sido sinceras. Foram palavras que transmitiram meu idealismo e que me deixaram mais confiante na possibilidade de se melhorar a vida pública. Estava agora do lado que pode (e deve) ajudar a transformar a realidade das pessoas e do mundo. Estava vivenciando uma experiência transformadora em mim. Estava deixando de sonhar longe para sonhar de perto. Estava efetivamente ampliando meus horizontes e aprendendo a enxergar a vida sob outra perspectiva. OLHAR DE NOVIDADE.

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