Monday, January 11, 2010

O ROCK IN RIO E UM NOVO PAÍS





Lá se vão 25 anos do 1º Rock In Rio. E só me dei conta ao ler na manchete do IG nesta manhã. Imediatamente lembrei-me de um adesivo que ficou por 3 anos na janela de meu quarto. Morava naquela época em Marília, cidade do interior de Sâo Paulo, distante mais ou menos 800 Kms do Rio. Mas, naqueles dias, parecia que eu estava na cidade do rock.

Dez dias de janeiro de 1985 que marcaram para sempre minha vida. Foram os responsáveis pela minha descoberta do Rock. Por incrível que pareça, para quem me conhece hoje e sabe o quanto eu gosto de rock, até os meus quinze anos eu praticamente não conhecia este gênero musical. A não ser por um pequeno LP do Elvis Presley, minha praia era a MPB. Cresci ouvindo minha mãe cantar as músicas e contar a história dos grandes festivais da década de 60 que mudaram a história de nossa música. Ficava perto de uma vitrola com pequenas caixas de música ouvindo e cantando as letras que embalaram uma geração. Não fiz parte dela, mas aprendi a amar as canções que contavam sua história.

Minha geração, porém, é a do Rock in Rio 85, onde as grandes bandas do rock nacional ganharam vida. Como tantos outros jovens brasileiros, no verão daquele ano ampliei meus horizontes musicais e, por conta de bandinhas de garagem que ganharam projeção nacional, aprendi a gostar de rock. Minha rebeldia ganhava outros tons nas vozes de Cazuza e Herbert Viana. Sonhava pegar a estrada e entrar na cidade do Rock, um templo maluco onde meus sonhos de liberdade ganhavam vida. Via pela televisão milhares de pessoas juntas se irmanando e revivendo o ideal dos hippyes de Woodstock. Ainda que, aos olhos de hoje, isso possa parecer fora de moda, o Rock In Rio 85 foi um segundo Woodstock. O mesmo espírito de paz e amor imperava naquele imenso parque onde a total falta de infraestrutura era compensada pela grandeza dos acordes emitidos tanto por monstros consagrados como Fred Mercury ou românticos exagerados como CAZUZA. Era o melhor encontro da fama com a promessa. Não só de novos talentos da música, mas de um novo Brasil. Promessa da redemocratização e da Nova república. Promessa de um tempo de mais liberdade e menos repressão. Promessa de esperança.

1985, um ano após o 1984 do George Owell, trazia uma nova perspectiva para jovens como eu que não sabiam o que havia sido a ditadura na prática, mas sentiam o peso da sua história. Sentíamos o momento da mudança, a perspectiva de uma nova realidade, respirávamos os novos ares da abertura. Neste contexto, assim como Chico e tantos outros foram as vozes da contestação, as novas bandinhas foram a tradução de nossa libertação. Barão Vermelho, Titâs, Paralamas do Sucesso e Legião Urbana faziam com que pudéssemos dançar livremente e colocar pra fora toda a energia represada por tantos anos. Ao contrário do som intimista da bossa nova e MPB dos anos 60 e 70, a música da geração do Rock in Rio era explosiva e radiante. Trazia em seus acordes a vibração de uma geração que acordava para um país que estava renascendo.

Pouco se falou a este respeito, mas, à luz da história, O rock in Rio pode ser comparado aos festivais da canção dos anos 60. Ele também foi o ponto de partida para o grande sucesso de bandas que representam uma geração e seu tempo. Lançou músicos que, mesmo com o passar do tempo, foram capazes de se manterem atualizados e renovando seu repertório. E, sobretudo, foi o palco onde, pela primeira vez, depois de muitos anos, a liberdade pode ser vivida sem o medo do chumbo.

3 comments:

Iatã Themudo Lessa said...

Pois é, eu detesto saudosismos do tipo "no meu tempo as bandas eram muito melhores" mas, numa boa, comparar Paralamas, Legião e Barão Vermelho com Pitti, Otto e NX0 e CPM22 é ... nem sei o que é.

Contudo, acho que a resposta para esse drama é a mesma que sempre dou à minha mãe quando ela diz que não se fazem mais músicos como na sua geração (Chico, Gil, Caetano, etc...). Os músicos geniais estão por aí como sempre estiveram, só estão ainda MAIS boicotados pelas grandes mídias. Graças a Deus hoje não é difícil encontrá-los nos iutúbis da vida!

André Vasconcellos said...

Acho que o maior benefício do Rock In Rio foi ter colocado o Brasil no mapa da agenda cultural mundial. Até esta data tínhamos recebidos esporádicos Queen, Kiss, Alice Cooper, e um ou outro gato pingado. Eu me lembro que, para curtir um show, costumava ir a um lugar chamado Woodstock, que vendia discos (de vinil, obviamente), para simplesmente assistir vídeos. Ficávamos todos amontoados de pé em um espaço minúsculo mas reagíamos como se estivéssemos numa real gig. Neste perrengue assisti Iron Maiden ainda com Paul Dianno e um Metallica recém-nascido com Cliff Burton. Estes momentos foram tão marcantes que ainda hoje considero Paul Dianno o único vocalista do Iron e praticamente renego 90% da produção da banda. Então imagina o que foi o Rock In Rio para esta geração, mas não para mim que ainda tinha 14 anos e nunca poderia ter viajado ao Rio para o festival.

A enorme ambição de Mr. Medina, aliada a uma ingenuidade de dimensões similares, conseguiu juntar um line-up impossível de se repetir. Sim, ele foi muito ingênuo, porque se tivesse idéia da grandiosidade do que estava fazendo, teria fugido de medo. Mesmo hoje em dia é de cair o queixo pensar em ter no mesmo lugar, ao mesmo tempo, bandas que estavam na ponta dos cascos como Iron, Queen, AC/DC, B-52, Ozzy, Rod Stewart e Yes, sem citar George Benson, James Taylor, Nina Hagen. Hoje em dia é fácil conseguir arrastar uma banda declinante para o terceiro mundo mas, naquela época, os caras estava tinindo e produzindo muito.

Depois em 88 veio o Hollywood Rock em São Paulo, mas trazendo um Duran Duran mais velho, um Supertramp sem Roger Hodgson, ou seja, aquilo que depois nos acostumamos a ver. Mas o sonho rolou prá valer naquele janeiro de 85.

Fernando Lessa said...

André, muito interessante a sua visão, sobretudo a frase final:

"o sonho rolou prá valer naquele janeiro de 85".

Foi isso mesmo que rolou. Fiquei sabendo pela internet que o palco foi emprestado do QUEEN e que, na primeira vez em que o Medina foi a Londres falar com o empresário do QUEEN recebeu uma sonora risada. Mas ele insistiu e deu no que deu.
Algo inesquecícel.

Abração.