Thursday, January 14, 2010

SAUDADES DO VELHO GUERREIRO

Odeio esta praga da televisão moderna chamada Reality show. Devo confessar que, por curiosidade pessoal e, espírito de um homem de comunicação, assisti alguns capítulos(e até segui)as primeiras edições de algumas destas porcarias eletrônicas: Casa dos Artistas, Big Brother Brasil, No Limite, Ídolos, O Aprendiz, A Fazenda. Não passei incólume a febre mundial da Susan Boyle no ano passado.

Mas não sou contra o formato reality show. Quem é que não tem espírito voyer, não gosta de dar uma olhadinha no vizinho pelo olho mágico, não fica curioso com uma janela aberta com luz acesa? Quem é que não fala mal dos outros, não fofoca, não dá opinião quando não é chamado, não mete o bedelho onde não deveria? Qual mulher não gosta de ser percebida quando passa na rua? Que mulher não adora se sentir desejada? E quem no mundo não gosta de se sentir importante?

Por explorar o desejo humano de ver e ser visto, os reality shows não param de se multiplar e, salvo raras execeções, sempre conseguem bons índices de audiência. Não acho falta do que fazer assisitr a um reality show. Não condeno quem os assiste e, muito menos, quem os exibe. O que me irrita, porém, é o exagero e a falta de bom senso na busca pela audiência (este aliás, um dos maiores problemas da TV mundial hoje).

A partir de sua 3ª edição, não assisto o BBB. Desde então só fico sabendo um pouco do que está acontecendo quando ouço comentários das pessoas que trabalham ao meu redor. Ou, mais recentemente, depois que ele passou a ter "cobertura jornalística" via internet. Como sou usuário do IG, acabo lendo as manchetes. Foi o que aconteceu ontem e hoje, quando vi o conteúdo de uma insultante chamada: "Dicesar conta detalhes de sua carreira como Drag Queen". Desacreditando no que lia, fiquei sabendo que, além de uma drag queen, esta edição do BBB conta com a presença de um gay assumido. E que, na primeira festa do programa, já houve um selinho entre homens.

Nada contra homessexuais e Drag Queens. Nada contra mesmo! Tudo, porém, contra a emissora que coloca dois personagens atípicos - alegando suposta falta de preconceito - quando, na realidade, está explorando suas diferenças na busca pela audiência. Tudo contra a direção do programa que, em um processo seletivo tendencioso, já escolheu estes dois participantes com planos préconcebidos. Ou teria sido mera e casual atração um selinho na primeira oportunidade? Tudo contra a exploração e ridicularização de opções pessoais e difíceis. Tudo contra a massificação do preconceito.

O efeito produzido pela exposição em programas como o BBB de estilos de vida ainda em fase de afirmação na sociedade é o contrário daquele que se pode imaginar. Ao invés de quebrar tabus e mitos esta exposição acaba por reforçá-los, fortalecendo ainda mais o preconceito contra estas pessoas. Ao invés de contribuir para que este comportamento seja cada vez mais aceito como normal, a exibição, na hora errada, para o público errado, de cenas e casos do universo homossexual, só serve para acentuar esteriótipos. O público em geral da TV aberta ainda não está totalmente preparado para este universo que, aos seus olhos, ainda é pouco aceito. Os comentários certamente serão preconceituosos e, enquanto permanecerem no BBB9, os homessexuais serão vistos como "aves raras", aumentando o interesse pelo programa.

É uma pena perceber o crescimento, a passos largos, da falta de critérios e limites na luta pela audiência. Esta tem sido uma tarefa dos diretores de programação e apresentadores de televisão que procuravam, através de sua criatividade, diferenciar o conteúdo de seus programas. Esta sempre foi a regra do jogo. Só que, da forma como ele está sendo jogado hoje, dá uma saudade do Velho Guerreiro!

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