Wednesday, March 26, 2008

Reflexão sobe o escândalo político em Nova York

As recentes declarações do novo Governador do Estado de Nova York, David Paterson, admitindo ter tido relações extraconjugais e experimentado cocaína e maconha na década de 70, impressionam pelo fato de a opinião pública americana tratar com patente diferença o atual Governador e o ex-Governador Eliot Spitzer. O fato de ter admitido publicamente, e ao lado de sua esposa, as relações fora do casamento e o fato de ter, antes que alguém o denunciasse, anunciado ter experimentado drogas, transformaram-no em bom moço apto a exercer uma função pública. Ao contrário de seu antecessor.

Como em um passe de mágica seu passado “questionável” foi apagado pelo público “mea culpa”. Exatamente por ter admitido em público seus “erros” o perdão foi concedido pela opinião pública que o acolheu vendo neste ato uma prova de caráter. Ao passo que o ex-Governador Spitzer continuou a ter o tratamento de delinqüente e marginal, por ter cometido exatamente o mesmo “erro condenável”. Porém sem tê-lo admitido publicamente.

O que os diferencia? Sem entrar no mérito moral, ambos cometeram o adultério e ambos têm a mesma “culpa no cartório” perante a opinião pública. Por quê um teve aval para exercer o poder e o outro não pôde cumprir seu mandato até o fim? Se o adultério é condenável e impede o exercício do poder, então que ambos não tenham permissão para exercê-lo. Se o adultério é critério que habilita ou descredencia um político a exercer sua função pública, então por quê esta diferença? Se o adultério é um padrão moral que influencia na competência para o desempenho de uma função pública no Estado de Nova York, então qual a justiça do julgamento entre um adúltero confesso e outro não?

Se um político adúltero não pode governar, então que esta seja a regra e que seja aplicada indistintamente a qualquer um que tenha praticado o adultério. Parece-me o cúmulo do falso puritanismo aceitar as desculpas públicas de um e condenar o outro que foi denunciado. Onde está a diferença? Se o adultério é pecado, ambos são igualmente pecadores. Quem tem este poder de absolver ou condenar um político adúltero?

A despeito do fato de relações extraconjugais em nada influenciarem o correto exercício de um mandato político, qual a lógica de, imediatamente após um escândalo sexual que leva um Governador à sua renúncia, aceitar um novo governante que também tenha cometido o mesmo “erro”? Somente o falso puritanismo pode explicar tal situação uma vez que, fosse respeitado critério de a habilitação para um cargo público estar condicionada à fidelidade conjugal, certamente o novo Governador do Estado de Nova York (e tantos outros ex-presidentes), estariam sumariamente excluídos do cenário político americano.




6 comments:

Dudalessa said...

Fê, me parece , que nesse caso, o que o condenou não foi o adultério em si, mas o falso e exagerado moralismo que ele pregava. Uma coisa é vc não condenar publicamente um crime e cometê-lo e outra é vc pregar a sete ventos que aquilo é um absurdo e ser pego cometendo esse absurdo. Nesse caso, quem o condenou foi ele mesmo. Vejo assim.

Marília said...

Hipocrisia e cinismo rolam soltos no meio desta embananação toda.

Edison Waetge Jr said...

Acho que é mais pelo que a Duda falou mesmo. Foi como em Watergate. O maior crime não foi ter espionado os democratas, mas sim ter mentido.
Só por curiosidade, me falaram de um artigo comparando os presidentes adúlteros (p/ex Kennedy e outros) com os pseudo-moralistas (Bushes e Nixon). Do ponto de vista estritamente de qualidade de governo, os primeiros ganharam com larga margem.

Fernando Lessa said...

Junior,

Este artigo que vocv~e menciona saiu na FOLHA nesta segunda-feira. É de um escritor americano (não me recordo o nome) que disse que os presidentes adúlteros eram melhores do que os psudo-moralistas. Ele defendia a quase impossibilidade de ser presidente e ser fiel.

Dudalessa said...

Tá legal, para o bem da família, se algum de vocês se candidatarem a presidência ( seja lá do que for), já me antecipo, votarei contra. Beijos nos dois.

Edison Waetge Jr said...

Pelo bem do País!