Thursday, February 12, 2009

PALIMPSESTO DO MEU ANIVERSÁRIO

Antes da invenção de Gutenberg, o pergaminho era utilizado para a escrita. Além de artesanal e demorado, seu processo de produção utilizava um dos bens mais preciosos da época: os animais. O couro de ovelhas ou cabras era curtido, lavado, e cuidadosamente raspado com lâminas especiais e com pedra pomes para depois ser branqueado com gesso ou cal. A partir daí, com a superfície branca, era possível registrar, com tinta, a escrita. Porém, como era muito caro e raro, o pergaminho era bastante reutilizado através de uma técnica especial de revitalização. Seu reaproveitamento era feito através do uso de uma solução alcalina que removia a tinta, sendo que, logo após, era feito um processo de raspagem e polimento. Estes pergaminhos reaproveitados eram chamados PALIMPSESTOS. A origem da palavra é grega e remete ao ato de raspar novamente o couro para que se possa escrever em cima do que já havia sido escrito: PALIM (de novo) PSESTOS (raspar/ riscar).

Segundo o evangelista João, Jesus teria usado a palavra PALIM em sua conversa com o fariseu Nicodemos. João narra o conselho de Jesus aos fariseus: em verdade vos digo: necessário vos é nascer PALIM (traduzido na Bíblia por de novo). Independentemente de crença ou do contexto histórico em que se insere o diálogo, filosoficamente é possível pensar sobre o profundo significado desta frase. Estamos sempre mudando, sempre crescendo, sempre nos transformando. Essa é a verdadeira essência da raça humana. Não fosse assim, não teríamos chegado até aqui. Teríamos ficado nas cavernas.

Devemos estar sempre nascendo, ou seja, sempre reescrevendo nossas vidas. Lembrando-nos dos Palimpsestos, devemos mudar, crescer, nos transformar e renovar nossas vidas contando com a história que fica para tráz sempre ao nosso favor. Por isso, a cada aniversário fico realizado, pois assim tenho vivido, com dificuldades, minha vida, mas sempre pensando que hoje sou melhor do que ontem e pior do que amanhã serei (sem pieguice, e com muito sofrimento interno, pois só o sofrimento é capaz de nos impulsionar e levar adiante).

Neste mesmo sentido, em minha interpretação, nascer PALIM seria sempre renovar a fé na vida e nos desafios que ela nos traz. Renovar a coragem, a vibração, o olhar adiante. Assim, RASPO no palimpsesto de minha vida a escrita de mais um ano para começar a escrever PALIM (de novo). Com muito mais fé. E sentindo-me hoje mais feliz e maduro do que há exatamente um ano.

5 comments:

Edison Waetge Jr said...

Quando eu te liguei para dar parabéns hoje, você me perguntou se era MAIS um ano ou MENOS um, e eu respondi que dependia do seu estado de espírito.
Pois bem, parabéns por MAIS um ano de vida!
Um beijo na testa, veio!

Fernando Lessa said...

Obrigado,tô ficando veio mesmo.Quase 40!!

Marília said...


Como dizia o seu vô Zuza,
"Véio é a vó!"
Parabéns, meu jovem!

Fabio Martinelli said...

Sensacional metáfora ... e por melhor apagado que tenha sido o antigo texto, algo dele permanecerá sempre visível sob o novo. Ao menos aos que tiverem olhos pra ver. Mais um belo texto, parabéns!

Fernando Lessa said...

Tia, muito obrigado, e "véio é a vó" mesmo. Tô nascendo de novo. Beijão.

Fá, legal seu comentário, é assim mesmo que sinto. Obrigado pela "audiência".

Abração.