Wednesday, September 17, 2008

ADEUS AO FUTEBOL ROMÂNTICO

Nasci em 1970. Ano do inesquecível Tri-campeonato mundial conquistado no México. Auge da Era Pelé. Meu pai, apaixonado por futebol e por esportes, ensinou-me desde cedo a gostar do futebol. Lembro-me da Copa de 74 e do primeiro título brasileiro do São Paulo em 1977. Lembro-me da angústia e tristeza que vivi com a derrota de 1982, para mim, a mesma de quem viveu o "maracanaço" de 1950.
Quando pequeno não podia ver uma bola que saía correndo atrás (aliás, apesar da idade, ainda hoje tenho esta mesma vontade). Quando adolescente tinha em minha casa um campinho de futebol para jogar com os amigos. Todo dia era bola na rede. Apesar de nunca ter sido um craque e nunca ter me destacado, o futebol sempre me acompanhou. E com ele, a paixão herdada de meu pai, compartilhada com meus primos mais velhos, estes, verdadeiros craques do futebol amador.
Cresci assistindo jogos pela TV todos os domingos, frequentando o Pacaembu e o Morumbi, , gritando pelo meu querido tricolor, escutando a resposta das torcidas adversárias, aprendendo a ganhar e a perder em tempos de não violência nos estadios. Via de perto e de longe o gramado, colecionava camisa dos meus jogadores preferidos, jogava futebol de botão. Sempre com a mesma paixão daqueles via em campo defendendo com garra e espírito esportivo as cores do seu brasão e da sua camisa.
Mas tudo isso foi perdendo o sentido à medida em que o futebol foi virando indústria e o marketing esportivo foi destruindo a essência do esporte bretão. Ontem assisiti a uma palestra do Pepe, ponta-esquerda do mágico time do Santos da década de 60, esse, sim um verdadeiro time dos sonhos. Em uma conversa gostosa e cheia de "causos", Pepe trouxe de volta o romantismo da era "Era Pelé" e do Brasil das 3 Copas. Histórias que povoaram minha infância e que fizeram parte da minha formação. No "bate-bola" de ontem, uma das passagens que mais me chamou a atenção foi quando ele disse que durante a concentração da Copa de 58, não se discutia prêmio ou dinheiro à medida em que o Brasil avançava e aumentava suas chances de ganhar a Copa. Segundo o eterno ponta-esquerda santista, o pensamento da comissão técnica era bastante claro: nós viemos aqui para ganhar a Copa, dinheiro a gente pensa depois.
Inspirado por este pensamento, depois da palestra, em uma sessão de perguntas e repostas, perguntei ao Pepe se ele achava possível termos novamente este espírito em nossos jogadores. Cético e, aparentemente sem muita esperança, ele respondeu dizendo que o erro está já no inicio da carreira dos juvenis que, aos 12 ou 14 anos, já têm empresários e procuradores para cuidar de suas carreiras. Disse ele que as próprias famílias já encaram seus filhos como fonte de renda e que, ao menor sinal de talento, já começam a procurar quem possa promover a carreira do filho.
A resposta do maior ponta esquerda de todos os tempos deixou-me "acachapado" , porém não decepcionado. Na verdade, ao perceber que os pés dos futuros jogares são mesmo "pés-de-meia" e não "pés-de-chuteira", dei ontem adeus ao futebol romântico que tanto aprendi a amar.

2 comments:

Edison Waetge Jr said...

"...meus primos mais velhos, estes, verdadeiros craques do futebol amador..."

Uahahahahahaha!

Sem comentários...

Fernando Lessa said...

Eram de vocês mesmo que eu estava falando.

Não é lendário "Edison borracha"!!!!