Thursday, September 03, 2009

A HISTÓRIA DA GUITARRA E DO ROCK



Para minha filha Beatriz


Era uma vez um senhor que gostava muito de música. Ele vivia em uma pequena casa afastada da cidadezinha onde muitas pessoas o conheciam por Luthier. Muito mistério e diversas histórias envolviam a vida deste pequeno homem de mãos calejadas e corpo corcunda. Todos diziam que em sua casa ele guardava um segredo que jamais seria revelado: a arte de fazer instrumentos.

Certa noite, muito cansado, com fome e sede, um músico solitário passou em frente à casa do Luthier. Vendo a única luz acesa no meio daquela estrada escura, ele resolveu bater palmas e arriscar para ver se alguem lhe daria abrigo. Quando já estava quase resolvendo ir embora o dono da casa apareceu e perguntou o que o forasteiro desejava. Ele respondeu dizendo que estava à caminho da cidade mas que já não aguentava mais andar e precisava de um lugar para dormir. O velho senhor recusou a estadia dizendo que a cidade estava perto e não custaria muito para ele chegar até lá. Mas o viajante disse que estava muito cansado, que havia caminhado o dia inteiro com apenas um cantil de água e que estava exausto. Reclamou também do peso de seu violão que carregara ao longo da jornada.

Ao perceber que se tratava de um músico, imediatamente o senhor abriu o portão de sua casa e convidou o jovem a entrar. Ofereceu-lhe um copo de água, colocou-o sentado em sua mesa e dirigiu-se a fogão de lenha. Aproveitando as brasas vermelhas que aqueciam o ambiente, remexeu a sobra de sopa que ainda estava na panela e serviu o incrédulo músico que ainda não sabia o tamanho de sua sorte.

Enquanto tomava a sopa na caneca colocada entre as frias mãos, o músico olhou ao redor o percebeu uma série de instrumentos de corda pendurados nas paredes. Observou também pedaços cortados de madeiras nobres e cordas espalhadas por todo os cantos da casa. Viu partituras em cima de uma mesa e muitas fotos de músicos com instrumentos de corda. Fascinado perguntou a seu hospedeiro se ele trabalhava com música e ficou surpreso quando o velho senhor lhe respondeu que apenas gostava muito de música. No mesmo instante o músico se levantou, correu em direçao ao seu violão e começou a tocar uma linda canção. Disse que estava à procura de um lugar para tocar suas músicas na cidade e que havia fujido de casa pois seus pais não queriam que ele seguisse seu dom artístico.

Tocado por tão lindos acordes, o senhor se levantou, correu em direção aos fundos da casa e mostrou-lhe uma casinha que ficava meio escondida no quintal. Acompanhou-o até lá e, abrindo a porta, mostrou o estúdio onde fazia seus instrumentos. Disse que ali moravam os segredos de mais de cinco gerações de luthiers que passavam sua arte de geraçao em geração. E que, era para pessoas com a sensibilidade musical daquele "garoto" que ele sonhava trabalhar. Entre suas várias ferramentas tomou em suas mãos o pedaço da melhor e mais nobre madeira, colocou-a sobre a mesa e começou a entalhar as formas de um violão. Foi quando, de repente, os dois foram surpreendidos por uma voz que ainda não sabiam de onde vinha:

- Para que o senhor está me formatando?

Olhando assustados para os lados e ainda procurando de onde poderia vir a voz, escutaram novamente:

- Para que o senhor está me formatando? Olhe para baixo, sou eu, o pedaço de madeira que está falando.

Muito intrigado o luthier respondeu:

- Você é o melhor pedaço de madeira que tenho, a mais nobre de todas que tenho aqui em meu estúdio. Vou construir um violão especialmente para este jovem músico, dono de um estraordinário talento musical.

Rapidamente, e com muita convicção, a madeira lhe disse:

- Senhor, não nasci para ter o mesmo destino de todas as outras madeiras. Não quero ter o mesmo formato e o mesmo som. Sei que os violões, os violinos e as violas que o senhor constrói são muito nobres e seu som maravilhoso. Mas eu queria fazer um som diferente, tocar acordes e melodias que ainda não foram tocados. Queria ser um instrumento diferente dos outros.

Pensativo o luthier respondeu, pedindo a cumplicidade do jovem músico.

- Mas seu fizer um instrumento diferente, quem vai tocar?

A resposta foi rápida:

- Eu toco. Com um instrumento novo posso desenvolver minha criatividade musical.

Ainda indeciso, o velho senhor dirigiu-se ao pedaço de madeira querendo entender que tipo de instrumento ela sonhava ser.

- Gostaria de ser um instrumento que tocasse junto com outros instrumentos, mas não em orquestras, como já existem tantos. Gostaria de poder ser a base para outros instrumentos e ter um som bastante agudo.

Olhando para o músico, o senhor perguntou:

- E você, que tipo de música pensa em fazer?

- Acho que poderia fazer uma música com muita força e muita energia, juntando alguns instrumentos para fazer as pessoas dançarem e se sentirem muito bem. Uma música que reuna as pessoas e mostre seus reais desejos. Na realidade, sempre pensei em criar um tipo de música que possa ser uma filosofia de vida.

Circunspecto e pensativo, franzindo a testa, porém já decidido, o luthier aceitou o desafio dos dois e disse:

- Muito bem....deixem-me pensar. Parece uma tarefa bastante difícil, mas nada impossível. Tenho que encontrar em uma nova forma para este instrumento. E cordas também. Mas acho que posso fazer.

Ali mesmo, sem perder nem um minuto, debruçou-se sobre sua mesa com todas as ferramentas de que dispunha e entregou-se com muita dedicação à tarefa. Trabalhou dias e noites à fio quase sem descansar até chegar ao resultado final: um lindo instrumento de cordas com bastante potência e sensibilidade que resolveu batizar de guitarra.

O som era lindo e potente e o músico rapidamente tomou-a em suas mãos. Era muito parecida com seu violão e ele rapidamente conseguiu adaptar-se ao novo instrumento. Durante dias, ao lado do senhor luthier, movimentou suas mãos rapidamente pelas cordas da guitarra criando acordes nunca antes emitidos por um intrumento de cordas. Exercitou sua sensibilidade pensando no desejo daquele pedaço de madeira que sonhara ser um instrumento diferente. Levou a sério a vontade de criar um novo tipo de música. E assim, tomado por seu sonho, partiu em direção à cidade para procurar um lugar para tocar.

Chegando no pequeno vilarejo, bateu de porta em porta até encontar uma chance em uma estalagem que abrigava viajantes e precisava de alguem para entretê-los. Muito nervoso, na sua primeira noite o músico abriu a caixa e de lá tirou um instrumento desconhecido que ninguem queria ouvir. Mas ele insistiu e começou a tocar as músicas que havia criado com seu mestre luthier. Pouco tempo depois o espaço da estalagem tornou-se pequeno para tanta agitação. Além dos hóspedes, pessoas que passavam pela rua, atraídos por um som tão potente e cheio de vibração, começaram a entrar para ver do que se tratava. Os vizinhos, curiosos, também pediram para entrar.


As noites seguintes foram bastante agitadas e cada vez mais pessoas se juntavam para ouvir aquela nova música. Em pouco tempo,como havia sonhado, o jovem músico estava tocando para um grupo de pessoas dançarem de forma descontraída e alegre. As noites daquela estalagem foram ficando cada vez mais animadas e novas músicas eram criadas com a vibrante participação de quem estava lá para ver um novo instrumento que tocava uma nova música. Certo dia,inspirado pelas palmas que acompanhavm o músico, um homem resolveu subir ao "palco" e complementar o som da guitarra improvisando toques de talheres em pratos e batucando em uma caixa de madeira. Dias depois, A música ficou mais vibrante ainda com batidas ritimadas que passaram a fazer parte das composições da guitarra.

Finalmente a madeira nobre havia se tornado um instrumento diferente e era o astro principal de um novo tipo de música. E assim nasceram o ROCK e a guitarra que até hoje movimentam pessoas e são um filosofia de vida.


PS: O termo luthier (lê-se lutiê) tem sua origem na palavra em francês para "fabricante de alaúde", um instrumento musical de cordas trazido do oriente médio pelos Cruzados e que era chamado "Ut". Também conhecido como luteiro ou lutiê, este profissional é especializado na construção e reparo de instrumentos de corda com caixa de ressonância, tal como violão e violino, sopro, percussão e teclado. Ele regula, restaura, transforma, reforma e adapta instrumentos musicais, além de construir peças e acessórios personalizados de acordo com as exigências e vontades dos músicos. Também é sua função orientar os clientes sobre a conservação de seus instrumentos, elaborar laudos
técnicos e orçamentos.

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