Thursday, May 14, 2009

FÉ CEGA, DÍZIMO SAGRADO

Saindo de um almoço no Shopping Light escutei os acordes de uma música muito familiar, o hino da batalha. Atravessava a Xavier de Toledo em direção ao Teatro Municipal quando resolvi mudar de direção ao ouvir um coro muito forte começar a entoar: "glória, glória, aleluia, vencendo vem Jesus". Parei extasiado em frente às Casas Bahia ao ver um grupo de aproximadamente 50 pessoas ao redor de um senhor com um órgão eletrônico e um microfone “puxando” o coro. Busquei um lugar em meio à roda que não parava de aumentar na medida em que pessoas, como eu, se aglomeravam para escutar aquele hino ou ver o que estava acontecendo. Era um movimento natural, pessoas se acomodando, passando e olhando, parando e cantando.

Um senhor baixo, cabelos pintados cor de caju, microfone em volta da cabeça e sentado em um banquinho ao lado de uma caixa de som, chamava mais a atenção do que as promoções da vitrine ao lado. Uma seqüência de hinos intercalada a "mensagens de salvação" foi tocada com um coro cada vez mais forte ao som de aleluias, améns e glórias a Jesus. Olhos fechados em orações particulares ou em voz alta, mãos para o alto, palmas para acompanhar os hinos. O culto a céu aberto parava fiéis no centro da cidade que não para nunca.

Cegados por sua fé, observei ingênuos olhares se irmanando em volta de um mercenário da religião. Um músico como outro qualquer buscando seus trocados nas ruas da metrópole. Mas com uma criativa história sobre o teclado comprado com o dinheiro que Deus lhe reservara e com o dom musical adquirido, na Igreja, por milagre de Jesus em apenas cinco minutos. Aleluia irmãos!

Em cima da caixa de som uma discreta bolsinha ao invés de um chapéu para receber o dízimo, neste caso dízimo, não caixinha. Um artista desta magnitude jamais teria um chapéu para receber sua "bênção". Ao lado, uma surrada Bíblia, provavelmente fiel depositária da sua falta de culpa. Incrédulo permaneci vinte longos minutos ouvindo a "palavra do Senhor" até que o diabo do relógio da calçada começou tentar os crentes. Aos poucos os fiéis foram saindo da roda para retomar suas vidas; porém sem nunca deixar ao menos algumas moedas com as mesmas palavras: Deus te abençoe irmão. Dinheiro suado e batalhado que deve ter faltado logo na esquina para pagar o almoço. E que, poucos minutos depois e muitos quilômetros adiante, deve ter pago um farto almoço para o músico disfarçado de pastor.

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