Friday, May 01, 2009

SAUDADES SEM FIM






Faz quinze anos que as corridas de Fórmula 1 não são mais a mesma coisa para mim. Um dos esportes qua mais adoro praticamente perdeu a graça. Mesmo nesta temporada que parece estar retomando a competitividade, depois que o Senna nos deixou, nunca mais tive o mesmo prazer em assitir as corridas. Infelizmente fiquei órfão de meu maior ídolo e nunca mais consegui colocar alguém no lugar.

Por ele fiquei em 90/92/93/94 mais de dez horas na fila desde a madrugada do dia anterior aos GPs disputados em Interlagos. Gritando feito um condenado: "Olê, olê, olá, Senna, Senna" tomei chuva na cabeça com imenso prazer e perdi a voz quando, junto com mais de 90.000 pessoas, fui à loucura em sua inesquecível vitória de 1993. Gritei e comemorei seu primeiro título na madrugada de um domingo com uma televisão que mal pegava o sinal da transmissão por estar em uma fazenda. Gastei o dinheiro do meu orçamento do dia pagando um taxista de Montecarlo para dar 3 voltas no circuito de Mônaco gabando-me por ser brasileiro. Sem que ninguém entendesse nada, passei à pé pela famosa curva Rascasse (que leva à linha de chegada em Mônaco) gritando "Senna, Mr. Monaco". Tantos e tantos domingos acordei mais cedo depois da balada só para vê-lo triunfar nas pistas.

Abaixo um texto publicado na edição nº5 da Revista 20/20 Brasil (em novembro de 2002)com toda minha admiração e meu olhar sobre o Ayrton. Notem que naquele ano Michael Schumacher (8 temporadas após a morte do piloto) ainda não havia batido o recorde de pole positions de Senna.


Olhos de lince

O mágico das pistas simplesmente via o que os outros pilotos não viam

Fernando Lessa


Na pista todos sentiam sua presença: era impossível para um piloto não percebê-lo por perto. Gehrard Berger, seu companheiro na McLaren por muitos anos e um dos maiores amigos no circo da Fórmula 1, certa vez disse que Ayrton via o que os outros não viam. A capacidade que Senna tinha de achar ângulos de ultrapassagens e tomadas de curvas (como se diz no jargão automobilístico) eram incríveis. Berger ficava impressionado com suas manobras e comentava com o piloto as telemetrias computadorizadas que mostravam o desempenho do carro volta a volta: “Como você fez esta curva nesta velocidade?”, perguntava. Não à toa, mesmo quase dez anos após sua morte, Senna permanece o recordista de pole positions da Formula 1: foram 65 poles, marca não alcançada nem pelo pentacampeão Michael Schumacher.


O desempenho de Senna sempre pareceu incrí-vel para todos os pilotos. Mesmo seus mais ferrenhos rivais o respeitavam. Alain Prost dizia que Senna tinha o dom de andar à frente. Esse incontestável dom é revelado por uma de suas grandes marcas: em mais da metade das corridas que disputou, Senna liderou. Foram 161 GPs disputados, dos quais esteve à frente em 86.


Ayrton tinha uma sensibilidade acima da média. Seus sentidos pareciam integrar-se buscando a perfeição. A expressão de concentração antes da largada é prova disso. Costumava dizer que em vários momentos “se desligava” do cockpit e dirigia por instinto, quase que levado. Por várias vezes revelou seu lado místico dizendo que conseguia ver de fora do carro o que estava fazendo. Inquestionavelmente, de todos os sentidos, a visão era o mais privilegiado deles: conhecia cada centímetro das pistas e as dominava com precisão.


Obstinado pela perfeição, como todo ariano que se preza, tinha o hábito de treinar exaustivamente para conhecer e desafiar seus limites. Chico Serra, seu companheiro de disputa de campeonatos de kart conta que, certa vez, em Bauru (SP), chegou para “abrir o kartódromo”, como era de costume (Chico Serra gostava de treinar sozinho pela manhã). O porteiro, o advertiu: “Já tem gente andando aí”. Serra encontrou Ayrton, ainda com o dia para clarear. Não acreditando, perguntou ao companheiro: “E aí, caiu da cama?" Senna respondeu: “Tenho que treinar no escuro para ver melhor de dia”. O que Ayrton Senna via, quase ninguém era capaz de enxergar.


Ainda jovem, disputando o Campeonato Paulista de Kart e pilotando seu famoso kart 42, Senna criou no Kartódromo de Interlagos uma “tomada de curva” que ninguém havia feito. Ele descobriu um ponto de frenagem totalmente inusitado que facilitava a entrada em maior velocidade na curva. Com esse recurso, quebrou o recorde da pista estabelecendo uma marca que permaneceu imbatida por muitos anos. Até hoje, os melhores tempos do Kartódromo de Interlagos são obtidos por aqueles que conseguem fazer “a tomada do Senna”, como ficou conhecida.

O que esperar


A atuação magistral de Senna não se restringia às pistas. Durante toda a sua carreira, ajudou de forma anônima várias instituições de caridade. “Se a gente quiser modificar alguma coisa, é pelas crianças que se deve começar”, dizia o campeão. Mas foi sua irmã quem concretizou seu sonho de criar uma instituição que contribuísse para a construção de uma sociedade melhor. Fundado por Viviane Senna, em 1994, o Instituto Ayrton Senna é hoje um modelo de organização no Terceiro Setor. Por sua exemplar obra, o Instituto recebeu vários prêmios da Unicef e hoje ampara 400 mil crianças e jovens em todo o Brasil.


O Instituto Ayrton Senna é uma ONG mantida por 100% dos royalties de todos os contratos de imagem de Ayrton Senna bem como da marca Senna e do personagem Senninha que foram doados pela família Senna para que o Instituto pudesse existir. Essa receita só pode ser obtida porque, ainda em vida, Senna revelou grande visão empresarial e lançou vários produtos com a marca Senna, desde bicicletas “mountain bike” até óculos (distribuídos pela Seline e que são um sucesso de vendas). A marca Senna rende recursos para o Instituto Ayrton Senna e o personagem Senninha é ídolo de milhares de crianças, muitas delas que sequer o viram nas pistas. Por sua grande visão, Ayrton Senna foi um homem que soube integrar carreira, imagem, empresas e cidadania, deixando um rastro que o manterá presente na história do Brasil

1 comment:

Edison Waetge Jr said...

15 anos já! Saudades! Nossos domingos nunca mais foram os mesmos...