Wednesday, May 28, 2008

SAUDADES GUGA

Escrevi este texto em 2004 quando Guga estava em sua melhor fase.
Decidi publicá-lo em homenagem à aposentadoria de um cara do bem e que eu muito admirei.
O BRASIL DE GUGA
Guga venceu Ferrero e confesso que começo a me lembrar do Senna. Comparações são sempre difíceis e perigosas, mas às vezes bem vindas. Acho que hoje ela é bem vinda.


Há pouco mais de dez anos me lembro que vivia uma dúvida, um dilema, uma crise quase que existencial. Deveria eu amar ou odiar este país? Era um típico cara pintada, já não mais estudante universitário, mas com o espírito de um deles, que acreditava em movimentos estudantis (apesar do babaca do Lindenberg Farias nunca ter me enganado) e na famigerada mobilização social. Peguei minha bandeira, pintei minha cara, fui duas vezes às ruas, acompanhei ao vivo a votação de cassação do Collor. No alto de meu pueril idealismo, achava ser aquilo suficiente e acreditei ter ajudado a mudar meu país.



Naquela época, recordo-me vivamente e com muita saudade, a revolta contra todos aqueles políticos que haviam nos traído parecia deixar de existir nas manhãs de Domingo quando “Ayrton Senna DO BRASIL” nos enchia de orgulho ao desfilar nossa bandeira nas pistas ao redor do mundo. Era um banho de emoção, uma catarse daquele Brasil perdedor que tanto nos maltratava. Era como se ele nos representasse, um a um, de todos os cantos deste país, em cada pódio que conseguia. Era como se ele nos dissesse, a cada novo começo de semana: deixa prá lá, um dia a gente vence... E nós, tomados de emoção, começávamos a semana cheios de esperança.



Quase dez anos se passaram desde sua morte e a vitória de Guga fez-me lembrar dele (como se fosse possível esquecê-lo). Em tempos de “apagão” de tanta falta de responsabilidade, não vivo mais o mesmo dilema. Todos odiamos claramente este país que ainda vai precisar de muitas vitórias do Guga para nos ajudar a recuperar a auto-estima. Até para os mais românticos como eu fica difícil gostar de quem nos maltrata aviltantemente a cada minuto. Fica difícil acreditar em quem se diz preparado e depois “ é pego de surpresa”. Mas o tempo, soberano regente da vida, sabe o que faz. No Brasil do Senna, uma vitória a cada quinze dias era suficiente. No Brasil do Guga, uma vitória por semana ainda é pouco...

E no Brasil do Guga, a vitória já não é mais catarse; é vingança.

1 comment:

Edison Waetge Jr said...

Vamos lá, Hypolito!