Thursday, July 17, 2008

MEU NOME NÂO É JOHNNY

Acabo de ler a incrível aventura de João Guilherme Estrella narrada no livro Meu Nome Não é Johnny. Deliciosamente escrito pelo jornalista Guilherme Fiuza, a biografia de um filho da burguesia carioca que virou traficante foi, para mim, uma grande lição de vida.
João Guilherme Estrella nasceu em berço de ouro, teve uma adolescência livre e foi um jovem que, circunstancialmente, caiu no mundo do tráfico. Percebe-se pela narrativa que ele não planejou montar o império que acabou se instalando ao seu redor. As coisas foram acontecendo, dando certo, e ele acabou chegando a um ponto em que não conseguiria sozinho sair da enroscada em que havia se metido. Ao meu ver, para seu bem, foi capturado pela Polícia Federal e passou apenas dois anos e meio na prisão, após uma controvertida decisão judicial que fez história no Rio de Janeiro.
De todos os trechos do livro, os que mais me marcaram foram aqueles em que o escritor descreve a vida de João Guilherme na prisão. Estrella não era santo, sabia se defender e tinha a "escola da rua", mas nunca foi um personagem do mal naquele meio tão complicado. Ao contrário, mesmo estando em meio a pessoas perigosas e que poderiam muito bem tê-lo influenciado negativamente, conseguiu manter-se fiel a seus princípios e sobreviver naquele ambiente singular. João foi capaz de manter-se são mental e fisicamente e aprendeu a lidar com as carcteristicas daquele sistema onde as regras são outras. Mesmo obedecendo à lei da prisão, Estrella foi capaz de se tornar uma unanimidade entre os presos ao mesmo tempo em que ganhou a confiança do sistema carcerário. Sua grande inteligência emocional o proporcionou a capacidade de sair-se bem, mesmo tendo, aparentemente, tudo contra si.
Naqueles anos sabáticos dentro da prisão, João foi exatamente o mesmo homem que havia traficado, ou seja, aquele que acreditava naquilo que estava fazendo. Mesmo que não soubesse o porquê. O que mudou, porém, foi seu autoconhecimento e a descoberta dos porquês. Sendo fiel a si mesmo, foi capaz de enfrentar adversidades que poderiam tê-lo destruído. Estrella tocava violão e compunha desesperadamente, escutava e cantava músicas em voz alta, fazia exercícios, escrevia para os analfabetos, contava histórias de um mundo que os presos não conheciam. Usou o castigo a seu favor privando-se das drogas em um ambiente mais do que favorável para seu consumo e com ampla oferta. Fez uma enorme desintoxicação física e mental e, pela primeira vez na vida, parou para pensar em si próprio. Descobriu que, até aquele momento, tinha apenas vivido intensamente.

Após o período de prisão, Joâo teve a real oportunidade de voltar ao mundo do tráfico mas rechaçou, firme e disciplinadamente, este caminho. Convicto, recomeçou sua vida do zero e, humildemente, trilhou uma nova vida. Sem nunca imaginar que viraria, literalmente, estrela!

2 comments:

Dudalessa said...

O que mais me marcou na história de J.G. Estella foi a demonstração de caráter durante seu julgamento a onde ele assume toda a culpa da qual seus companheiros eram acusados. Aquilo foi bacana... Demonstrava a pureza de coração de um cara que não era , de verdade, um cara mal.

Edison Waetge Jr said...

Só assisti ao filme. Muito bom e bem dentro do clima do livro que você descreve.
Achei legal que não o transformaram em herói nem coitadinho vítima da sociedade. Foi produto do meio que vivia e teve suas opções. Escolheu errado da primeira vez, mas teve a sorte de ter tido uma segunda chance e a aproveitou.