Thursday, July 17, 2008

PLATAFORMA DA ESTAÇÃO

Vi meu avô na plataforma. De pé nos esperava com seu sorriso alegre e sua barriga “cheia de dinheiro”. Veio em nossa direção caminhando ao lado de minha avó para nos receber. O trem, quase parando, chacoalhava devagarzinho chegando ao final da linha. Debruçado na janela da entrada do vagão, mal esperava pela hora de descer. Bem ao lado camareiro, ansiosamente, via ele baixar a escada. Desci os seus degraus e saí em disparada.


Os braços de meu avô receberam-me calorosamente. De mãos dadas, caminhamos em direção à locomotiva e, num gesto que se repetia a cada chegada em São Paulo, ele me levantou em seu colo para eu ver a magia da máquina de comando. Aquela que, contava ele, não mais cuspia fogo como as outras á vapor que levavam seu pai nas viagens pelo interior de São Paulo. Fascinado, olhava para dentro da locomotiva procurando o maquinista que me trouxera a São Paulo.


Pessoas ganhavam a plataforma, umas apressadas, outras cansadas da noite mal dormida, o vagão de carga deixava o que havia transportado e os ajudantes se apresentavam oferecendo-se para carregar as malas. A plataforma, antes vazia, ganhava vida com a chegada de mais um trem de longo percurso. Os carrinhos de madeira passavam cheios de bagagem, o vagão restaurante descarregava as garrafas de refrigerantes e o garçom descia tirando sua gravata de borboleta preta. Abraços e beijos, festa para quem chegava de longe. O grande relógio a marcar as horas.

Revisitei esta plataforma. E vi nos ponteiros daquele mesmo relógio o tempo da saudade de meu avô.

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