Wednesday, October 15, 2008

CULTURA CONFESSIONAL

Ao contrário da filosofia cartesiana do "penso, logo existo", a nova realidade de convivência virtual está mudando o paradigma existêncial para: confesso, logo existo, criando a chamada cultura confessional.
A vida em tribos e comunidades virtuais onde se compartilham valores e, principalmente, experiências semelhantes, tem aproximado as pessoas de forma a mudar seu comportamento e visão de mundo. Ao invés de viverem suas próprias questões existenciais em questionamentos internos e "enfurnados" em consultórios psiquiátricos, as pessoas têm encontrado nos blogs e outras ferramentas de convivência virtual (Orkuts, face to face, myspace etc...) um espaço para compartilhar (com quem entende e sabe do que estão falando) seus problemas. Ao expor publicamente suas experiências de vida e, através de seu "público", vivenciar o reconhecimento recíproco de seus valores, a questão passa a não ser mais apenas pensar para existir, mas sim confessar para existir.
O "confessionário" público da web permite que as pessoas, mesmo sem um retorno de quem está do outro lado, sintam-se compreendidas e correspondidas, simplesmente por fazerem parte de uma comunidade que compartilha as mesmas questões. A solidão filosófica de cada ser cai por terra e é corrompida irreversivelmente pela sensação de união. Desta sensação vem a força das relações virtuais (que tanto encurta distâncias), e a senção de proximidade, ainda que a kilômetros de distância. O que se percebe é o enraizamento de laços emocionais profundos, advindos da mera sensação de que alguém está do outro lado te ouvindo e dando atenção. Ao contrário da solidão dos divãs psiquiátricos, ou mesmo de conversas onde seu interlocutor (suposto confidente) pode dar a sensação de estar ouvindo mas, na realidade está com a cabeça em outro lugar, a certeza de que alguém está ao seu lado gera tal segurança que acaba funcionando como um catalizador de tranformações na percepção do mundo. Não por acaso, recente pesquisa batizada de Never Ending Friends (sobre a vivência em redes sociais digitais), revelou que a maioria dos entrevistados definiu como solitária (lonesome) a sua vida antes de participar de alguma rede digital e como maravilhosa (wonderful) após a entrada em uma ou mais comunidades virtuais.
A criação de blogs para relatos de viagens é a mais pura demonstração desta cultura, onde o viajante deixa de estar sozinho em sua experiência sendo acompanhado por quem estiver do outro lado do mundo (literalmente!). Assim, é possível viajar acompanhado pela web compartilhando experiências, emoções e conquistas, ao mesmo tempo em que, através da segurança oferecida por quem já passou ou vai passar pela mesma experiência, oferece uma sensação de entrelaçamento ainda não dimensionada. As pessoas, cada vez mais, tendem a não se sentirem isoladas e abandonadas em suas buscas e aventuras. O irreversível abandono da sensação de solidão gerado pela convivência em "rede" é um dos indicativos de que já estamos vivendo uma cultura confessional.

1 comment:

Dudalessa said...

Fê, acho que discordo um pouco disso. Observando o meu blog, percebo que o escrevo muito mais para mim do que para a troca de experiências, e que esperasse por isso estaria "frita" . Digo pois em em quase 5 meses de contagem de visitas vejo que apareceram por lá + ou - 940 pessoas ( muita gente) e quase ninguém trocou comigo experiências ( exceção de quatro ou cinco fiéis) A sensação não é a mesma da descrita por você... Ok, vc vai dizer que meu blog é restrito... Mas, restrito a minha "comunidade" então, nada muda.Conhecemos outros blogs, e muitos têm essa característica...
Realmente vejo isso de outra forma.